A recuperação de 41 botes baleeiros, uma embarcação emblemática dos Açores, é um dos resultados mais visíveis do programa de reabilitação de património ligado à caça à baleia no arquipélago, em curso desde 1998.
“Uma região pequena como a nossa recuperou 41 botes, 11 lanchas de reboque e faz regatas com mais de 30 botes”, afirmou Manuel Costa, diretor do Museu do Pico, defendendo que a mobilização da comunidade e a reaproximação dos açorianos ao mar gerada por este programa torna-o uma “referência a nível nacional e internacional”.
O fim da caça à baleia nos Açores, no início dos anos 80, deixou muito património abandonado, cuja recuperação começou em 1998 com a aprovação de legislação específica.
Desde essa altura, o investimento na valorização da cultura baleeira ascende a cerca de 1,5 milhões de euros.
Na sequência desta aposta das autoridades regionais, decorreu entre 2008 e 2011 o projeto Baleiaçor, financiado por fundos comunitários, que permitiu a recuperação de uma dezena de botes baleeiros, a cargo dos mestres João Tavares e Manuel Machado, enquanto o mestre João Medina, considerado o último grande veleiro artesanal dos Açores, fez as velas para todos os botes recuperados.
O bote baleeiro açoriano, que nasceu da capacidade inventiva dos construtores navais do Pico, estava especialmente adaptado às condições de navegabilidade do mar dos Açores e ao modelo de baleação costeira praticado no arquipélago.
Para alguns especialistas, trata-se de uma embarcação quase perfeita devido à sua elegância, robustez, eficácia e singularidade.
O projeto Baleiaçor incluiu o apoio às regatas de botes baleeiros, a realização de um seminário internacional e a digitalização de mais de 20 mil documentos, entre os quais cédulas marítimas, escrituras de constituição de sociedades baleeiras, planos de construção de embarcações baleeiras e mapas de capturas.
“Este projeto insere-se na lógica de uma política cultural de preservação do património baleeiro, que é uma imagem de marca da cultura dos Açores”, frisou Manuel Costa.
A atividade desenvolvida neste projeto, orçado em cerca de 450 mil euros, consta de um catálogo recentemente lançado, com 120 páginas e inúmeras fotografias relativas ao processo de reabilitação das embarcações antigamente usadas na caça à baleia, mas também às regatas em que agora estão envolvidas.
Para Manuel Costa, “o aspeto mais importante deste projeto é que não foi pensado para que o património recuperado fosse destinado ao museu, mas numa perspetiva de o relançar na comunidade”.
“Assim foi possível reanimar a carpintaria naval, a construção de velas, a cordoaria, a arte de navegar, saberes que estavam em risco de se perderem”, afirmou, destacando a “enorme envergadura social, cultural e patrimonial” deste projeto.
Nesse sentido, apontou as regatas de botes baleeiros, que reúnem mais de duas dezenas de embarcações, como “uma forma criativa de fazer reviver este património”.
Para Manuel Costa, a conclusão do projeto Baleiaçor representa o “fecho de um ciclo”, salientando que “não há mais embarcações para recuperar”.
“Agora importa agora conservar o que existe”, alertou o diretor do Museu do Pico.
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