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"Ilhas de Bruma"


"É um hino não institucional. As 'Ilhas de Bruma' são a autonomia a falar. Ela de facto teve sucesso por várias razões. Uma delas é porque realmente encarna o espírito da autonomia", afirmou à Lusa Manuel Medeiros Ferreira, que em julho de 1983 escreveu o refrão num dia de bruma em que "não se via nada e as gaivotas vinham mesmo beijar a terra".
A canção, que levou dois meses a escrever e a aperfeiçoar, foi tocada em público pela primeira vez na primeira edição do Festival Maré de Agosto, que decorre na ilha de Santa Maria desde 1984, mas verdadeiramente o sucesso popular chegou quando a RTP/Açores aproveitou o tema para algumas das suas séries mais emblemáticas na década de 80 do século passado.
Manuel Medeiros Ferreira, que tem hoje 62 anos, disse que a maior homenagem que lhe podem prestar é continuar a cantar a sua música, revelando que se emociona sempre que vê o público cantarolar a letra de um tema que se tornou "emblemático para todos os açorianos".
Em casa, com vista privilegiada para o Oceano Atlântico e rodeado de livros, música e imagens de José Afonso, Vinicius de Moraes e Jacques Brel, Manuel Medeiros Ferreira confessou que quando escreveu "Ilhas de Bruma" existia "um certo complexo de inferioridade entre os açorianos" e a canção "também serviu para contestar, para despertar a autoestima do povo", algo que "hoje já não se coloca".
"Ainda sinto os pés no terreiro/ Onde os meus avós bailavam o pezinho", escreveu na primeira estrofe das "Ilhas de Bruma", uma referência direta aos antepassados que viveram nos Mosteiros, freguesia da ilha de S. Miguel onde também nasceu.
Nas veias continua a correr-lhe basalto negro e na lembrança tem vulcões e terramotos, mas se voltasse a escrever "Ilhas de Bruma" chamar-lhe-ia "Ilhas do Espírito Santo", por ser um "elemento identitário e verdadeiramente unificador do povo açoriano".
Manuel Medeiros Ferreira, que continua a escrever e a compor canções com o seu violão, garantiu que "só as palavras mais simples atingem as maiorias", sendo o grande problema da transmissão "justamente, conseguir transformar palavras muito eruditas em coisas simples".
Por este motivo, não se admira que os açorianos saibam de cor a letra da sua música e o mesmo não aconteça com a letra do hino institucional dos Açores, da autoria da poetisa açoriana Natália Correia."

Fonte: Diário de Noticias

Ana Antunes

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