"Desde o início de oitocentos, as experiências efectuadas pelo desembargador Vicente José Ferreira Cardoso da Costa tinham aconselhado a introdução da cultura do tabaco na ilha de São Miguel, mercê da riqueza do seu solo e do seu clima.
O tabaco foi introduzido em S. Miguel em 1815. Inicialmente o seu local de produção foi nas Furnas, mais tarde com o declínio do ciclo da laranja, o tabaco surge como uma nova esperança a nível económico. Um dos grandes impulsionadores desta nova indústria foi José Bensaude que em 1866 funda a sociedade Fábrica de Tabaco Micaelense.
Esta cultura teve grande expansão nos Açores, originando o
surgimento de cerca de 19 fábricas. Apesar de haver muita produção, eram poucos
os consumidores, pois muitos agricultores produziam para consumo próprio.
Tornou-se então necessário exportar para o Continente e para a Madeira, mas a
lei de 18 de Agosto de 1887, veio prejudicar a Região, pois os tabacos
açorianos exportados para o reino passaram a ser tributados com os mesmos
direitos dos tabacos estrangeiros, dificultando assim o acesso ao mercado do
continente e com o excesso de produção, muitas fábricas fecharam por falta de
mercado.
Actualmente existe em Ponta Delgada, duas fábricas, a Fábrica de Tabaco Micaelense e a Fábrica de Tabaco Estrela, tendo sido esta última fundada em 1883, por José Medeiros Cogumbreiro. Na Maia zona de grande produção de tabaco antigamente, existe ainda uma fábrica que apesar de não laborar está transformada num núcleo museológico, dando assim o seu contributo para a preservação deste nosso património para as gerações futuras.
A sua produção:
São as fábricas que semeiam o tabaco a partir de
sementes colhidas no ano anterior, as plantas são cedidas aos agricultores para
manter a qualidade do tabaco, são transplantadas em Março ou Abril.
Durante o período de desenvolvimento da planta o agricultor tem de manter o
terreno limpo de ervas e arejar o solo com sachas. Vai fazendo a desponta
(corte dos ramos e flores terminais) e esladroamento ou desneto (retirar
os rebentos nascidos depois da desponta).
As plantas atingem a maturação em Julho ou
Agosto, são então cortadas e estendidas no chão um a dois dias e depois
colocadas a secar em lugar abrigado e arejado os “secadores”, aí com o passar
do tempo as folhas vão mudando de cor, ficando num tom acastanhado ao fim de 25
dias, secas e sem humidade, depois as folhas são retiradas dos caules e
seleccionadas por tamanho e agrupadas em molhos, seguindo depois para a fábrica
para serem trabalhadas mecanicamente para o fabrico de diversos produtos como
os cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos, rapé e para ser mascado."
Livro: Património dos Açores em Filatelia (1) Culturas do Ananás, da vinha, do chá e do tabaco de Manuel Vieira Gaspar
Ana Antunes
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