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A Concha - Poesia Açoriana

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.

A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

Fonte: Vitorino Nemésio, 1901-1978, O Bicho Harmonioso
Foto: http://img1.mxstatic.com/wallpapers/51bbcbb7c63e816f5a8f3dcbf8ed9d47_large.jpeg

Elisabete Rosa

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