A antiga fábrica da baleia da ilha das Flores passou a
ser um museu, mas o edifício atrai há anos turistas e locais e só em 2014
recebeu cerca de dois mil visitantes, segundo revelou o seu diretor.
“Assim que terminámos as obras de construção civil [de
recuperação do edifício, em 2011], começámos a ser imediatamente procurados”,
disse aos jornalistas Luís Filipe Vieira, à margem da inauguração do Museu da
Fábrica da Baleia do Boqueirão, em Santa Cruz das Flores.
Dada a procura, a opção foi manter a porta aberta e, só em 2014,
o espaço recebeu cerca de dois mil visitantes, afirmou o diretor do Museu das
Flores, a entidade responsável pela gestão do Museu da Fábrica da Baleia do
Boqueirão, que vincou que aquele número é mais do dobro dos habitantes da ilha.
A inauguração foi feita pelo presidente do Governo Regional dos
Açores, Vasco Cordeiro, numa cerimónia em que estiveram presentes antigos
operários da fábrica e os baleeiros ainda vivos da ilha das Flores, que caçaram
baleias até 1981.
O fim da caça à baleia nas Flores coincidiu com a sua proibição
na Europa, mas em 1981 havia já poucos baleeiros na ilha e a atividade iria
desaparecer naturalmente, segundo disse Luís Filipe Vieira.
A baleia era usada para farinhas e óleos que os consumidores de
então tinham já vindo a substituir por produtos com outra origem, que eram mais
baratos.
Sintoma daquilo que estava a acontecer no mercado de então foi
que a venda do último óleo de baleia produzido nas Flores levou três ou quatro
anos a verificar-se, por já não ser um produto procurado.
Francisco Almeida, 84 anos, foi um dos homens que, a 14 de
novembro de 1981, caçou e levou para a fábrica do Boqueirão a última baleia que
ali foi transformada.
Andou nos botes, a caçar baleias, dos 16 aos 55 anos e quando
naquele dia levou aquela baleia para a fábrica (a 25.ª daquele ano) não sabia
que seria a última, segundo contou à Lusa.
“Já se sabia que queriam proibir”, mas os baleeiros acreditavam
que a interdição deixaria de fora os Açores, onde “se apanhavam” poucos
animais, afirmou, revelando que houve uma altura em que sentiu saudades
“daquele tempo”, sobretudo depois de ter andado “na estiva” e na “carga e
descarga de barcos”.
Celestino Medeiros, 90 anos, que é neste momento o mais velho
dos baleeiros das Flores, não se lembra quantos foram exatamente os “muitos
anos” que dedicou à caça da baleia.
Também emocionado por lembrar aqueles tempos, explicou sem
hesitação à Lusa o que levava, em parte, um homem a entrar num bote e caçar um
animal com a dimensão de uma baleia, apesar do “muito medo”: “Aquilo era um
vício”.
A fábrica do Boqueirão funcionou de 1944 a 1981, desempenhando
um papel importante na economia da ilha das Flores, como recordou hoje Vasco
Cordeiro.
A recuperação do edifício e a sua transformação em museu (um
investimento de 1,5 milhões de euros) visa preservar “a memória” e a “história”
que tem associada, mas também fazer desta infraestrutura um alicerce “de
construção de um novo futuro”, disse o presidente do executivo açoriano, que
considerou que este é um espaço que tem ainda “muito a dar” em prol do
desenvolvimento das Flores.
Vasco Cordeiro saudou também os baleeiros e antigos operários da
fábrica, dizendo que o novo museu quer também “honrar e homenagear” todos os
que estiveram ligados à caça da baleia e “aquilo que deram à sua terra”.
Foram exatamente os baleeiros e antigos operários que com
diverso material e a sua memória ajudaram também a concretizar o museu, vincou,
em declarações aos jornalistas, Luís Filipe Vieira, que agradeceu a
“generosidade” e “amabilidade” de todos eles.
Fonte: http://bomdia.eu
Ana Cabrita
Sem comentários:
Enviar um comentário