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Convento São Boaventura







A história dos franciscanos nas Flores está intimamente ligada à existência de três irmãos religiosos — dois deles franciscanos, Frei Diogo das Chagas e Frei Mateus da Conceição e o padre Inácio Coelho — nascidos em Santa Cruz das Flores; os dois primeiros tiveram papel relevante na criação da nova Província de S. João Evangelista, ao ocuparem lugares cimeiros na hierarquia da ordem, o último exerceu o seu magistério nas igrejas do Corvo e das Flores.

A obra de maior perenidade do padre Inácio Coelho foi a fundação do Convento de São Boaventura de que foi padroeiro. Doou terras para a edificação e legou, por sua morte, uma renda avultada para sustento dos frades. Foi sepultado em 1643, junto à porta principal da igreja.

O Convento tem a sua origem numa escritura de doação do Padre Inácio Coelho, lavrada em Santa Cruz das Flores em 26 de Junho de 1641. Segundo a tradição, este gesto resultou do cumprimento de um voto feito no dia 14 de Julho (Dia de S. Boaventura) de 1640 em que o vigário se propunha criar as condições para a fundação de um convento logo que Portugal recuperasse a sua independência.

As obras começaram em 1641. Convento e igreja ficaram implantados na zona meridional da vila, próximo da Rua das Poças, com a fachada virada ao nascente. A primeira missa foi celebrada em 2 de Fevereiro de 1650. A campanha de obras prolongou-se pelo séc. XVIII.

O triunfo do liberalismo pôs termo à presença franciscana. Em 1832 foram extintas as ordens religiosas e os frades do Convento de São Boaventura juntaram-se aos do Convento de Nossa Senhora do Rosário da então Vila da Horta e os seus bens passaram para a Fazenda nacional, em 1834.
  
No ano de 1838 José Inácio Pimentel arrematou o convento e vendeu-o a Francisco da Cruz Silva e Reis em 1855. Em 29 de Maio de 1873, António Vicente Peixoto Pimentel comprou-o e entregou-o à Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz das Flores para lá instalar o hospital. Esta mesma instituição recebeu a igreja por alvará régio de D. Luís.

A igreja é um edifício relativamente amplo, de planta rectangular, sem transepto e nave única, cilíndrica, de madeira pintada, que assenta na cimalha real muito recortada. No tecto predomina uma decoração vegetalista e floral que cabe perfeitamente na classificação de brutesco.

À entrada do templo, sobre robusta trave de madeira, construiu-se o coro.

A capela-mor forma a cabeceira poente. Alta e profunda, rasgada a quase toda a largura do corpo da igreja, quase atinge a cimalha real e define-se por um arco de volta perfeita. É iluminada por uma janela virada a norte.

No corpo da igreja, dois altares, sem profundidade, encrostados nas paredes-mestras, à entrada da capela-mor.
À sua planta esteve subjacente uma preocupação estrutural de modernidade — a concepção de nave única. Se levarmos em conta que a igreja de São Roque inaugurou este novo procedimento arquitectónico, em 1568, que serviu de exemplo a muitas outras construções, e que no final do segundo quartel do séc. XVII esta nova opção era já posta em prática no ponto mais distante desta, enquanto ainda permaneciam como arcaísmos as igrejas de três naves. Podemos, assim, afirmar que a igreja florentina está integrada nos novos preceitos tridentinos que levaram os Jesuítas a repensar o tradicional programa espacial da divisão em três naves.







No exterior temos um frontispício delimitado por duas pilastras e dividido verticalmente por outro par de pilastras, todas levemente ressaltadas. Uma cornija e uma cimalha, praticamente com relevos idênticos, determinam três corpos horizontais repartidos por superfícies; os dois primeiros são subdivididos em três áreas de igual dimensão; o terceiro — o entablamento — constitui uma superfície contínua de predominância horizontal, encimado por uma pequena edícula, amparada por duas volutas estilizadas, que suporta uma cruz. 
A capela-mor forma a cabeceira poente. Alta e profunda, rasgada a quase toda a largura do corpo da igreja, quase atinge a cimalha real e define-se por um arco de volta perfeita. É iluminada por uma janela virada a norte.


Sílvia Vieira 
Fonte: museudasflores.pai.pt


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