Esta lenda passa-se no tempo da ocupação das ilhas dos Açores
pelas forças de Filipe II de Espanha.
Já antes estas ilhas eram frequentemente atormentadas e assaltadas
por piratas e corsários. Estes atacavam de surpresa, por vezes em dias
de nevoeiro ou a coberto da noite, outras vezes em plena luz do dia.
Assaltavam, roubavam e levavam com eles homens da terra para
trabalharem como escravos.
Certo dia, uma embarcação pirata comandada por um rei mouro apareceu
nas costas da ilha do Faial para mais um assalto mas, como a embarcação foi
avistada a tempo, a população local teve tempo de se preparar. Desse modo, os
piratas encontraram uma forte resistência e foram obrigados a fugir de forma
precipitada sem conseguirem furtar a terra.
Na fuga apressada, o rei mouro esqueceu-se da sua coroa, que tinha posto sobre um muro de pedra enquanto
combatia. A coroa era feita de prata lavrada
e enfeitada em toda a volta com lindos ramos desenhados no metal luzidio. Já
longe da costa, o rei mouro apercebeu-se da falta da coroa e imediatamente
lembrou-se que a tinha deixado ficar em terra. Não querendo perder o seu
símbolo de poder, resolveu voltar à ilha para a recuperar. No entanto, e como
não podiam voltar à ilha como
piratas para não serem novamente atacados pelos locais, disfarçaram-se de marinheiros comuns.
Depois de a procurem onde o rei a havia deixado, deram início a uma busca
pelo resto da ilha. Perguntaram aos habitantes se tinham visto uma coroa de
prata, recebendo respostas negativas, entraram em lojas de comércio e em todos
os locais onde ela eventualmente poderia estar e nada. Depois de a população
começar a desconfiar da tão estranha procura, os piratas tiveram de partir para
a sua terra no Norte de África, para nunca
mais voltar.
A coroa tinha sido encontrada por uma mulher da localidade
dos Cedros, que ao saber que andavam à sua procura,
desconfiou que eram os piratas e tratou de a esconder como melhor pôde,
levantando as saias e
metendo-a numa perna, como quem enfia um anel num
dedo. Aí a conservou até ter a certeza que o rei se fizera ao mar, desistindo
para sempre do precioso objeto.
Consciente do valor do objeto que tinha consigo, e não desejando que os
seus conterrâneos soubessem que o tinha, deixou-o ficar muito tempo na perna, até que ao fim de alguns dias esta começou a inchar e a doer. Aflita, a mulher acabou então por dizer que possuía a coroa mas, como a perna estava muito inchada, a coroa ficou presa, assim, a população não teve outra alternativa senão cortar a coroa por um
lado para a poderem tirar, e depois voltaram a soldar cuidadosamente a parte cortada.
O objeto ficou para a freguesia dos Cedros, onde morava a referida mulher cujo
nome se desconhece. Com o passar dos anos a coroa passou a ser usada pelos
locais nas festas do Divino Espírito Santo.
Esta coroa tinha 13 Centímetros de altura e continha cravada uma gema de cor da
qual se ignora o verdadeiro valor. Com o passar dos anos e com medo de estragar
tão simbólico e rico objeto, foi mandada fazer uma nova coroa, uma imitação da
primeira que passou a ficar sempre guardada.
Atualmente, a antiga coroa continua a ser guardada todos os anos em casa
do mordomo da festa do Espírito Santo e pode
ver-se, ainda perfeitamente, tantos anos depois, num dos lados, o lugar onde a mesma
foi cortada e de novo soldada para poder sair da perna da mulher que a tinha
guardado.
Fonte: http://obaudahistoria.blogspot.pt/2011/12/lenda-da-coroa-real-de-cedros.html
Vera Madruga
Vera Madruga
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