Lenda da Sacristia X



Era quinta-feira, dia 14 de Agosto de 1770, véspera da grande festa dos jesuítas - a Assunção da Virgem.
Enquanto a nau portuguesa, Nossa Senhora da Natividade, lançava ferro inesperadamente na calma baía da Horta, os religiosos esmeravam-se na preparação da Igreja do Colégio para as solenidades. A enorme abundância de luzes derramava uma claridade fantástica pelas embarcações e, os vidros multicolores dos candeeiros, as pratas muito brilhantes, os enfeites luxuosos e as franjas de ouro, expunham a riqueza do convento. Toda a vila acorreu em peso ao templo. 
o soar festivo das torres assim como a alegria das luzes, levava uma nota de dúvida ao capitão João de Brito que, junto da murada de estibordo da Nau da Natividade, estudava os movimentos no edifício. os padres, lá dentro, andavam em movimentos muito apressados: os gestos eram mais rápidos, a voz menos pausada e as cerimónias litúrgicas mais breves, como se pressentissem todo o perigo que lhes viria da baía. 
Decidiram então prevenir-se contra um mal que não sabiam ao certo qual era e, auxiliados por um criado negro, saíram com pás e enxadas para a igreja onde numa das Sacristias, enterraram, cuidadosamente encaixotada, a riqueza que momentos antes embelezava o templo. Sepultaram uma pesada custódia de ouro crava de pedras preciosas, castiçais de prata maciça, uma soberba taça de ouro com nove pedras preciosas representando as nove ilhas dos Açores, a riquíssima lâmpada do sacramento, centenas de cruzados das rendas e economias do Colégio e muitos outros objetos valiosos de culto. Feito o trabalho, recolheram à cama e esperaram ansiosos o dia seguinte.
Na manha seguinte, a nau de el-rei continuava a balouçar-se tranquilamente na baía e, os religiosos, prevenidos contra o futuro e preparados para as surpresas do dia, foram para a festa da Virgem. 
Logo que terminou a última cerimónia, a igreja e o convento foram rodeados por tropas e, os jesuítas, intimidados pelo comandante, saíram da sacristia para bordo, levando apenas debaixo do braço o seu breviário. Pouco tempo depois, a nau levantou ferro e, empurrada pelo vento brando e favorável, começou a navegar as águas do canal.
Dos jesuítas nunca mais se soube mas, o fiel criado negro ficou na Horta e, à hora da morte, revelou o segredo a uma freira a Glória. Esta, por sua vez, deixou escrito num papel amarelecido pelo tempo, a seguinte nota: "O preto disse-me que ajudou a enterrar na sacristia X uns caixotes com o tesouro do colégio."
O recado de pouco serviu pois, ainda hoje, ninguém sabe qual é a sacristia X onde está escondido o tesouro dos jesuítas.  

Fonte: Wikipedia

Vera Madruga


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