O fim da caça à baleia nas
Flores coincidiu com a sua proibição na Europa, mas em 1981 havia já poucos
baleeiros na ilha e a atividade iria desaparecer naturalmente, segundo disse
Luís Filipe Vieira.
A baleia era usada para
farinhas e óleos que os consumidores de então tinham já vindo a substituir por
produtos com outra origem, que eram mais baratos.
Sintoma daquilo que estava
a acontecer no mercado de então foi que a venda do último óleo de baleia
produzido nas Flores levou três ou quatro anos a verificar-se, por já não ser
um produto procurado.
Francisco Almeida, 84 anos,
foi um dos homens que, a 14 de novembro de 1981, caçou e levou para a fábrica
do Boqueirão a última baleia que ali foi transformada.
Andou nos botes, a caçar
baleias, dos 16 aos 55 anos e quando naquele dia levou aquela baleia para a
fábrica (a 25.ª daquele ano) não sabia que seria a última, segundo contou à
Lusa.
“Já se sabia que queriam
proibir”, mas os baleeiros acreditavam que a interdição deixaria de fora os
Açores, onde “se apanhavam” poucos animais, afirmou, revelando que houve uma
altura em que sentiu saudades “daquele tempo”, sobretudo depois de ter andado
“na estiva” e na “carga e descarga de barcos”.
Celestino Medeiros, 90
anos, que é neste momento o mais velho dos baleeiros das Flores, não se lembra
quantos foram exatamente os “muitos anos” que dedicou à caça da baleia.
Também emocionado por
lembrar aqueles tempos, explicou sem hesitação à Lusa o que levava, em parte,
um homem a entrar num bote e caçar um animal com a dimensão de uma baleia,
apesar do “muito medo”: “Aquilo era um vício”.
A fábrica do Boqueirão
funcionou de 1944 a 1981, desempenhando um papel importante na economia da ilha
das Flores, como recordou hoje Vasco Cordeiro.
A recuperação do edifício e
a sua transformação em museu (um investimento de 1,5 milhões de euros) visa
preservar “a memória” e a “história” que tem associada, mas também fazer desta
infraestrutura um alicerce “de construção de um novo futuro”, disse o
presidente do executivo açoriano, que considerou que este é um espaço que tem
ainda “muito a dar” em prol do desenvolvimento das Flores.
Vasco Cordeiro saudou
também os baleeiros e antigos operários da fábrica, dizendo que o novo museu
quer também “honrar e homenagear” todos os que estiveram ligados à caça da
baleia e “aquilo que deram à sua terra”.
Fonte: Fórum da Ilha das Flores
Silvia Vieira
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