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Lenda de Nossa Senhora dos Milagres - Ilha do Corvo










Lá pelo século XVI, num dia de mar manso, andavam uns homens nos calhaus do Porto da Casa a apanhar peixe ou a procurar restos de madeira trazidos pelo mar. Inesperadamente deram com um pequeno caixote à beira da água, muito bem feito e que despertou logo muita curiosidade. Abriram-no com cuidado e tiveram uma grande alegria quando encontraram dentro uma pequena imagem de Nossa Senhora do Rosário. 

    A notícia correu pelo pequeno povoado, e toda a gente se juntou para ver a santinha. Alguém reparou que a imagem trazia um escrito, que logo foi decifrado pelos poucos que sabiam ler. Dizia assim a inscrição: «No lugar onde eu sair, façam-me uma ermida». 
    As pessoas ficaram muito animadas e, embora não tivessem muitas posses, decidiram que se haviam de juntar e construir una ermidinha no Alto da Rocha. Passado algum tempo, a notícia de que uma imagem da Senhora do Rosário tinha aparecido no Corvo espalhou-se pelos Açores e chegou a Lisboa. Daí veio alguém para levar a imagem. O povo do Corvo ficou revoltado por se quererem apossar do que era seu, mas não pôde fazer nada. 
    A imagem foi levada para qualquer templo em Lisboa. Aí, uma coisa estranha omeçou a acontecer: Nossa Senhora amanhecia todos os dias com o manto molhado, como se tivesse feito uma grande viagem por mar. E assim era. A santinha aproveitava a noite para vir visitar a pequena ilha do Corvo, onde queria estar. 
    Os padres de lá começaram a ficar perturbados com o acontecimento inexplicável. Até que um disse: 
    — Esta santa não se quer aqui. Desde que ela cá chegou, o manto está sempre alagado. Isto é um sinal. Ela tem de ir para onde saiu. 
    Alguns concordaram, e outros, não, mas, passado algum tempo, durante o qual o estranho acontecimento se continuava a dar, mandaram a imagem de volta para o Corvo. 
    A alegria do povo foi grande quando recebeu a sua santinha. Fizeram-lhe uma pequena ermida sobre a rocha, sobranceira ao Porto da Casa, onde ela tinha aparecido e queria ter a sua morada. Dali passou a proteger os Corvinos e a fazer muitos milagres, pelo que a baptizaram com o nome de Nossa Senhora dos Milagres.




Fonte BiblioFRAZÃO, Fernanda Passinhos de Nossa Senhora - Lendário Mariano Lisboa, Apenas Livros, 2006 , p.17-18

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