Procissão do Espírito Santo |
As festas do Espírito Santo nos Açores possuem uma
estrutura tradicional comum. No entanto, apresentam bastantes variantes entre
as várias ilhas do Arquipélago e dentro da mesma ilha, entre os vários
Impérios. O ciclo da festividade tem início na noite do último domingo dos
festejos, depois da arrematação das “promessas”, cujo produto reverte a favor
da festa do bodo. À porta do Império procede- se à extração dos “pelouros” -
sorteio entre os irmãos para saber a quem caberá a organização das festas do
Espírito Santo do ano imediato, normalmente em cumprimento de uma promessa. Uma
urna contém o nome dos irmãos e a outra a data dos sete domingos em que se há-de
festejar o Espírito Santo, ou seja, entre a Páscoa e o domingo de Pentecostes
ou, noutros casos, o domingo da Trindade. A quem sair o número um no pelouro,
ficará responsável pelos festejos na primeira semana e torna-se o guardião da
coroa do Espírito Santo durante todo o ano, até ao domingo de Pascoela. Esse ou
alguém da família que esteja presente, depois da festa, vai buscar a coroa ao
Império e convida os parentes e amigos a acompanhá-lo. Organiza-se então o
cortejo da “mudança”, que conduz a coroa ate à casa desse irmão. Ali é
construído um altar com um trono na dependência mais ampla, o “meio-da-casa”
ou
o quarto de entrada, onde se coloca a coroa, assente na salva e com o cetro
atravessado; ao lado dispõe-se a bandeira. No ano seguinte, assim que acaba a
Páscoa, entra-se em plena época do Espírito Santo. Durante cada semana das
festividades realizam-se as “alumiações” – veneração das insígnias do Divino na
casa do Imperador -, reza-se o terço à noite no Império perante a coroa e o ceptro
encimados pela pomba e canta-se o “pezinho” ao imperador e àqueles que realizam
ofertas ao Espírito Santo. Em alguns festejos, existem também as “cantorias”.
Na sexta-feira, os bovinos são enfeitados e realiza-se a “procissão do vitelo”.
Posteriormente, sacrificam-se os animais necessários para o bodo que o
Imperador oferecerá no domingo aos convidados, retalha-se a carne para a sopa,
o cozido e a alcatra do jantar e para os “quintões de esmola” a distribuir
pelos pobres da freguesia. No sábado faz-se a distribuição de esmolas,
compostas de carne, pão e vinho, benzidas pelo padre.
No domingo de manhã
realiza-se a primeira procissão, encabeçada pela bandeira do Espírito Santo. A
“folia” vai buscar o Imperador Menino, representando inocência, a sua casa, com
a coroa, o ceptro e a salva, transportados ritualmente por jovens vestidas de
branco até à igreja. À porta da igreja o pároco espera o cortejo e asperge a
coroa, o Imperador e acompanhantes, dirigindo-se depois para o altar-mor, onde
é colocada a coroa. Na cerimónia da “coroação” o padre toma o ceptro, dá-o a
beijar ao Menino e entrega-lho, e depois faz o mesmo com a coroa, colocando-a
sobre a sua cabeça; asperge o Imperador, incensa-o e entoa-se o “Veni Creator
Espiritus”. Muitas vezes não é o Imperador que é coroado, mas o parente mais
próximo ou a pessoa que ele convida para esse fim, seja adulto ou criança. Dita
a oração própria, coloca-se novamente a coroa sobre a banqueta e procede-se à
celebração eucarística. Após o término desta, faz-se uma nova procissão até à
casa do Imperador, onde se procede à cerimónia da “descoroação”.
Insígnias do espírito santo |
Foliões |
As procissões eram tradicionalmente acompanhadas pelos
foliões, encarregados de anunciar, dirigir e orientar todas as cerimónias,
dançando e cantando jocosamente. Hoje, na maioria dos casos, os foliões foram
substituídos pelas filarmónicas, limitando-se quase exclusivamente a acompanhar
as coroações e mudanças e a dirigir a “função” em casa do Imperador. Nos
festejos realizam-se ainda as famosas touradas à corda, bodos de leite,
distribuição de massa sovada aos irmãos, “cantorias” improvisadas, atuações das
filarmónicas e de grupos folclóricos.
Texto adaptado: http://www.monumentos.pt/Site/DATA_SYS/STUDYandDOCUMENTS/NORMAL/da746d0b-f751-4b93-acad-fd95fd88ef28/Artigo%20final.pdf
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