Inspirados na herança
norte-americana os açorianos produziram, nos finais do séc. XIX, princípios do
séc. XX, um novo modelo de bote baleeiro, melhor adaptado ao tipo de baleação
costeira, sedentária e artesanal que se praticou nas ilhas dos Açores.
O bote baleeiro açoriano, uma
imagem de marca da construção naval no plano internacional, é,
incontornavelmente, um dos mais importantes vestígios materiais do património
baleeiro e da cultura da baleação na Região.
As regatas de botes baleeiros
açorianos, como forma de celebração da nossa relação épica e mítica com o mar e
com as baleias, remontam ao período da baleação. Realizavam-se nos portos
baleeiros mais emblemáticos, associadas, sempre, a momentos festivos e comemorativos
da comunidade. Destacavam-se, neste quadro, na ilha do Pico, as regatas de Nossa Senhora de Lurdes, nas Lajes do
Pico, da Calheta de Nesquim e das Ribeiras. Outras regatas com caráter
episódico, ocorreram noutras ilhas dos Açores, designadamente no Faial e
Terceira, entre outras, sempre associadas a visitas de figuras públicas e de
Estado, aos Açores.
A visita Régia, em 1901, à cidade
da Horta, foi celebrada com a realização de uma regata de botes baleeiros, fato
que atesta a importância destas competições nestes contextos festivos.
Com o fim da atividade baleeira
nos Açores, em 1984, as regatas baleeiras ficaram confinadas aos portos
picoenses das Lajes, Ribeiras e Calheta de Nesquim. A partir dos finais dos
anos 80 a participação estendeu-se à ilha do Faial. Só a partir dos inícios do
séc. XXI, no âmbito do projeto de recuperação do património baleeiro – botes e
lanchas de reboque – dos Açores, se assiste ao alargamento das regatas por toda
Região.
As atuais regatas em botes
baleeiros açorianos estão, pois, absolutamente associadas a este movimento
crescente de recuperação, revitalização e reutilização do património baleeiro
para fins culturais, desportivos, de educação ambiental, lazer e turismo.
Assumidas como um atrativo cartaz turístico dos Açores são, hoje, entendidas
como património baleeiro regional, como um momento de revisitação da herança
histórica local e como espaço de afirmação identitária.
Para além da sua função memorial
e documental, as regatas de botes baleeiros são também uma extraordinária
manifestação de beleza estética e poética, associadas ao poder encantatório que
o mar e os barcos exercem na nossa vida.
Fonte: Património Baleeiro dos
Açores – Herança e Modernidade
Ana Cabrita
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