Na Fajã Grande, Ilha das Flores, na década de 1950, toda a criançada se
pelava por beber uma tampinha de leite na altura da ordenha. Ainda
morno, a cheirar a erva fresquinha, era sobretudo na altura do Outono, ou seja,
nos meses de Março, Abril e Maio, durante os quais o gado estava amarrado à
estaca nas terras do cultivo, alimentando-se das forrageiras e de erva
fresquinha que era para ali acarretada, que o leite sabia melhor. Até parecia
que tinha um agradável sabor ao trevo ou à erva da casta. Outras vezes,
sobretudo nos meses de Inverno, quando os pais chegavam a casa com as latas bem
cheiinhas de leite, após a ordenha era um rodopio à volta das mesmas,afim de
se conseguir a tão desejada tigelinha do dito cujo. O leite era,
incondicionalmente, um dos nossos principais e mais importantes alimentos.
Mas os nossos pais, melhor do que ninguém conheciam a força do leite e o seu
valor como elemento fundamental na nossa alimentação, pelo que regra geral,
quando os acompanhávamos na ordenha, davam-nos sempre para beber uma tampa não
de qualquer leite mas pediam-nos que aguardássemos para o fim da ordenha, a fim
de sermos agraciados com o último leite retirado do úbere da vaca, ou seja, o
apojo. Bem sabiam eles que este era o mais saudável e nós que era não apenas o
melhor, o mais saboroso e até o mais quentinho.Na verdade o apojo é o leite mais consistente e mais espesso e por conseguinte
o mais saudável e mais forte, extraído da vaca, depois de tirado o primeiro,
que é bastante menos grosso. É também o que tem melhor sabor. Por isso mesmo
sabia tão bem e, pelos vistos era muito saudável, uma tampa de apojo, sobretudo nos campos após a
ordenha quando as vacas estavam amarradas à estaca.
Carlos Fagundes
Carlos Fagundes
Fonte: Fórum da Ilha das Flores
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