Hoje o Monchique é um
enorme ilhéu, situado a Oeste da ilha das Flores da qual dista cerca de cinco
milhas. Situado precisamente em frente à freguesia da Fajã Grande, da qual é
uma espécie de ex-libris, aquele ilhéu açoriano constitui, verdadeiramente, o
ponto mais ocidental da Europa e, durante séculos, serviu como ponto de
referência para acertar as rotas e verificar os instrumentos de navegação das
inúmeras embarcações que navegavam entre a América e a Europa.
O ilhéu é um enorme
rochedo de sólido basalto, constituindo os restos de um cone litoral
desmantelado pela erosão marinha. Eleva-se a partir de uma plataforma sita a
40-50 m de profundidade, constituída por escoadas lávicas de morfologia
irregular, o que confere aos fundos circundantes um micro relevo acentuado. São
numerosas as cavidades submarinas nas encostas deste ilhéu. A região mais
profunda da formação é recoberta por depósitos de blocos, calhaus rolados
areias. Nas zonas próximas à linha de costa do ilhéu as escoadas lávicas
apresentam grandes fraturas, originando paredes verticais. A baixa profundidade
existem covas de gigante de grandes dimensões. O ilhéu está no centro de uma
região de grande diversidade biológica, com cerca de uma centena de espécies
identificadas. A flora litoral é dominada por uma alga castanha, junto das
quais existem cracas. Nas águas circundantes são abundantes, entre outros, os peixes-rei.
Mas o Monchique nem
sempre foi um simples ilhéu. Segundo uma lenda muito antiga, acredita-se que em
tempos muito recuados, o Monchique terá sido uma bela e grande ilha, com uma
área igual ou superior à sua congénere de São Miguel e um com formato, no que à
orla marítima diz respeito, em parte semelhante à ilha do Pico, com a chamada “ponta
da ilha” voltada a oeste. Isto significa que o que a parte mais oval da
ilha, assaz mais volumosa do que a da ilha do Pico mas também onde se situava
um cone vulcânico de que o Monchique é o último resíduo, se situava a lesta e,
por conseguinte, voltada para as Flores que, assim, disfrutaria de uma vista
desta ilha muito semelhante à que do Pico se visiona do Faial. Era esta parte
daquela ilha mistério, voltado a este, que delineava uma espécie de canal muito
estreito, que, separado das Flores, na direção norte/sul, permanecia,
frequentemente agitado, devido à força das correntes marítimas que por ali
passavam e dos ventos fortíssimos que se faziam sentir, chamado, por isso
mesmo, de “Rio Mau”. Por sua vez a sul, e a unir os extremos do bojo com
a aguçada ponta situava-se uma descomunal baía ocupando uma área de
aproximadamente metade da superfície da ilha.
Contam outras lendas
que os piratas europeus ficavam hipnotizados por essa ilha do Atlântico norte,
sobretudo pelo seu tamanho, altitude e beleza, muito descomunal relativamente
às vizinhas ilhas do Corvo e Flores, com que formavam uma espécie de segundo
arquipélago. Tratava-se, segundo relatos de alguns documentos escritos deixados
por aqueles piratas, de uma ilha de rara beleza, que encantava quem por
ela passa e se aventurava a penetrar nela e a descobrir as inúmeras belezas,
vistas maravilhosas, árvores frondosas e as diversas praias. Em meio do
Atlântico, protegidas pelo sol e pelo oceano, abençoada pelos deuses, cheia de
montes,
Acredita-se que muito
antes do povoamento e colonização dos Açores, conforme consta de alguns
portulanos muito antigos, assim como as Flores e o Corvo e em conjunto com
estas, a ilha tinha o nome de Insulae Corvis Marinis, nome
dado pelos navegadores que ao largo passavam e viam as ilhas cobertas de vultos
que pareciam corvos negros. Já por esse tempo, no entanto, a ilha do Monchique
parecia destacar-se do conjunto das três. Como estava mais próxima das Flores
do que o Corvo, terá sido designada por “mui tcenca” ou seja, muito
próxima, o que, mais tarde terá evoluído para Monchique. A
ilha possuía uma importância incomum graças a sua posição geográfica
estratégica e de proteção à navegação que ancorava na sua enorme baía não só
para se abrigar de ventos e tempestades mas também para se abastecer de água e
frescos.
Muitas lendas foram
criadas à volta desta ilha que ainda hoje se continua a vislumbrar mas apenas
nas manhãs de São João e se estas nascerem cobertas de uma densa e inebriante
bruma.
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