Hoje escrevo só para ti. Por isso ouve-me com a voz de
menina decidida que há muito tempo já fui. Olha-me de cima para baixo, como me
olhavas quando eu era pequenina e te seguia, casa fora, atrás de uma lindíssima
Deusa de flutuantes vestidos. Sente-me como me sentias quando o meu tamanho
ainda permitia que me aninhasse no colo do teu doce perfume. Quero que me
vejas, oiças e sintas na invacilável pureza de criança com que eternamente te
chamarei de MÃE.
Hoje escrevo só para ti e quero que saibas o quanto entendo
e me encantam as palavras que no silêncio me dizes. Quero que saibas que sinto
cada gota de orgulho que tens nas minhas conquistas; que sinto cada onda de
alegre prazer com que a minha boa disposição te enrola; que sinto cada aragem
de divino com que as minhas palavras te embalam.
Hoje escrevo só para ti porque o cordão que nos une é
feito do aço eterno de um amor maior que a vida; porque te sinto a estóica
tristeza de não saberes aplacar-me os desgostos; porque te conheço o desejo de
que todos os meus caminhos sejam feitos só de alegria; porque sei que me
entendes as escolhas mesmo quando não as percebes e me devolves toda a paz como
tu e só tu consegues.
Hoje escrevo só para ti porque só de ti posso em
verdade dizer o quanto és nobre, forte e muito, muito bela. És uma caixa de
gloriosas surpresas envolta em pose serena. És presença encantadora na minha
encantada visão. És o mar de águas mais calmas em que jamais naveguei.
E é por isso que nunca duvidei do meu
pai quando embevecido dizia que as suas filhas eram lindas, mas que mais linda
que nós era a mãe das filhas dele.
Hoje escrevo só para ti. Ouve-me com voz de menina.
Fonte. Ana Amorim Dias
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