Turfeiras

As turfeiras são ecossistemas de zonas húmidas, comuns nas zonas de interior dos Açores. Os solos são mal drenados, geralmente impermeáveis, o que provoca o seu encharcamento e anóxia. As espécies de plantas que aqui existem estão adaptadas à vida nestas condições. As turfeiras dos Açores são dominadas por briófitos de Sphagnum spp.. Para estas estão identificadas as espécies de Sphagnum palustre, S. auriculatum, S. subnitens, S. papillosum, S. squarrosum, S. cuspidatum, S. lescurii, S. centrale, S.capillifolium e S. compactum. A turfa é um material de origem vegetal, formada principalmente por camadas de esfagno parcialmente decomposto.
As zonas altas da maioria das ilhas do arquipélago são ocupadas por vegetação húmida, principalmente por turfeiras, devido à entrada de grande quantidade de água quer através das chuvas e intercepção dos nevoeiros quer à presença de camadas endurecidas no solo ricas em Ferro, Alumínio e Manganês, que facilitam a sua impermeabilização.

Na maioria dos ecossistemas, o pH encontra-se próximo da neutralidade, no entanto nas turfeiras, o pH é bastante ácido. O Sphagnum “cria” um ambiente ideal para si próprio reduzindo a competição com outras plantas, pois a maioria não tolera níveis baixos de nutrientes ou ambientes ácidos, retendo assim enormes quantidades de água.
As turfeiras formam reservatórios de biodiversidade e apresentam-se como ecossistemas raros e únicos no Mundo. Grande parte das tipologias de turfeiras são protegidas pela Directiva habitats e Convenção de Berna, o que as torna extremamente importantes por constituirem um grupo raro e pelo facto de serem elas próprias habitat de uma grande diversidade de espécies raras protegidas, tais como, o Juniperus brevifolia, Erica azorica, Culcita macrocarpa, Frangula azorica, Isoetes azorica e o Melanoselinum decipiens.
As turfeiras fazem parte do ciclo do Carbono, permitindo o seu armazenamento. A decomposição da matéria orgânica acelera quando o nível de água baixa, havendo uma maior libertação de CO2 para a atmosfera. A remoção da flora das turfeiras e o aquecimento global aceleram este fenómeno.

As turfeiras contribuem para o fornecimento e regulação da água. Segundo WELLS & HIRVONEN, 1988, durante períodos de elevada precipitação, aumenta a quantidade de água armazenada, sendo esta gradualmente libertada durante os períodos de baixa precipitação, intervindo no ciclo da água por via da regulação do fluxo (infiltração) da água. As turfeiras também regulam a escorrência superficial (Foto 1) e subterrânea (caudais das nascentes); suprimindo o aumento abrupto dos caudais após precipitação intensa; regulando ainda a erosão dos solos (Foto 2) e o microclima insular, favorecendo assim uma evapotranspiração muito elevada.

Estes ecossistemas são verdadeiros reservatórios purificadores de água, que nos Açores serve para o consumo humano. Retém todas as substâncias transportadas pela água (iões metálicos, agentes patogénicos e outras substâncias tóxicas), diminuindo a sua concentração na água libertada. Existe um grande potencial para o tratamento de águas poluídas, sendo esta uma área em expansão. Se as condições geológicas forem adequadas e o ambiente pobre em Oxigénio, a turfa pode transformar-se em carvão que, por ser inflamável, pode ser utilizado como combustível.

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