Descoberta de grutas no Monte Brasil com valor e interesse por revelar

A descoberta de duas grutas no Monte Brasil levaram a historiadora terceirense Antonieta Costa a apresentar o caso num congresso internacional em Évora em que defende tratarem-se de “santuários” que necessitam de “imediata investigação”, mas cuja comprovação científica carece de “desbloqueamento” e, acima de tudo, defende, interesse e valorização por parte das entidades oficiais e das populações. 
A investigadora terceirense Antonieta Costa defende uma “imediata investigação” às grutas recentemente descobertas no Monte Brasil, no denominado “Pico do Zimbreiro”.
Esta foi uma das mensagens que deixou na apresentação que fez destes achados no âmbito de um congresso internacional decorrido há cerca de uma semana em Évora.
“Por estarem à vista de quem passa e não necessitarem de qualquer tipo de manipulação ou escavações, nesta primeira fase de caracterização (como possível futuro objecto de estudo) e apenas por suscitarem curiosidade, principalmente ao evidenciarem características tão estranhas à cultura e hábitos de construção dos actuais habitantes, duas destas estruturas foram consideradas como susceptíveis de imediata investigação, nomeadamente de pesquisa bibliográfica (mesmo sem prévia autorização)”.
Estruturas com “característica estranhas” de edificação que, salienta, foram “identificadas como tal pelo arqueólogo Nuno Ribeiro, ainda impedido de proceder aos estudos necessários devido a entraves de ordem burocrática”.

“Santuários Fenícios”

A historiadora refere que esse conjunto de estruturas escavadas na rocha da reserva florestal, no lado oeste, do Monte Brasil foram recentemente identificadas como possíveis “Santuários” e “Hipogeus”  “Fenícios e/ou Cartagineses”.
A sua interpretação teve por base “formas arquitecturais portuguesas e espanholas dos séculos XV e XVI, altura do povoamento e ocupação da Ilha” e os “paralelismos encontrados” entre estas grutas e as construções fenícias, sobretudo ao nível da localização das grutas, junto ao mar, geometria da planta e omnipresença da água.
Porém, qualquer comprovação, salienta, aguardam “desbloqueamento”: “a fase seguinte, que irá compreender testes de datação a aplicar aos materiais das grutas, assim como escavações que possam fornecer mais informação, são procedimentos que aguardam o desbloqueamento do respectivo licenciamento”.

Sinais por investigar

Segundo a sua pesquisa, tal como os santuários fenícios, também estas grutas do Monte Brasil têm uma localização “não necessariamente no cimo do monte, mas na encosta, do lado poente para uma melhor exposição climática”.
Outra das características vai para o sistema de abastecimento de água. Em tempos idos, as edificações “compreendiam sempre na sua estrutura um rio, ribeiro, fonte ou cisterna porque, segundo os assírios, fenícios e hebreus “Deus só se manifesta junto da água”. No Monte Brasil “entre as cinco estruturas visíveis no Pico do Zimbreiro (já nos informaram da existência de muitas outras) estas condições estão presentes”, através da presença de uma “cisterna” e de “um sistema de recolha e distribuição de água para umas cavidades escavadas no chão. Estão frente ao mar, a uma distância de cerca de trinta metros”.
“Todas estas condições coincidem com as dos referidos santuários”, denota.

Geometria das grutas

A forma das grutas, segundo refere a investigadora, sugerem resultar de uma arquitectura que, alterada pelos tempos, é inspirada numa deusa fenícia: Astarté/Tanit: “Tanit era também uma deusa do povo berbere, onde manteve o mesmo símbolo. De forma trapezoidal, é fechado no topo por uma linha horizontal e encimado por um círculo. (…) É esta a forma das duas grutas em estudo”, além do facto de “ambas as grutas seguem uma planta trapezoidal. A da cisterna é mesmo um trapézio sem qualquer lado paralelo, enquanto que a outra mantém a entrada (figuração da cabeça?) paralela à linha do fundo, ou base”.
No que diz respeito aos elementos da construção referentes ao aproveitamento de água, Antonieta Costa explica que “a água foi sempre um dos elementos de representação da vertente fértil da divindade. Muitos dos seus rituais exigiam esse factor simbólico. (…) vários autores referem a característica de muitos dos seus santuários, para além de terem acesso à água , resultarem de escavações na rocha, a que era dada a forma de um útero. Este é o caso de várias das grutas encontradas na área do Pico do Zimbreiro”, reforça.

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