O Culto ao Senhor Bom Jesus


No dia 6 de Agosto duas paróquias da Ilha do Pico celebram a solenidade da Transfiguração do Senhor, isto é, as festas em honra do Senhor Bom Jesus, uma devoção que já conta com cerca de 140 anos. Reportam ao ano de 1862, quando o emigrante Francisco Ferreira Goulart trouxe do Brasil uma imagem do Senhor Bom Jesus, cópia fiel daquelas que se veneram. Esta devoção já cá existia, venerando-se imagens do Senhor Crucificado, como se pode ainda ver nos Inventários das Igrejas Paroquiais. Mas foi a partir da chegada da Imagem a São Mateus do Pico, que mais se intensificou a devoção ao Ecce Homo.
Em Junho de 1906 chegou à paroquial da Calheta de Nesquim uma "grande e bonita imagem do Senhor Bom Jesus, oferta da Sra. D. Maria Filomena Gomes", como diz a Imprensa da época.
Também na freguesia da Criação Velha se venera, a partir de 1914, a imagem do Senhor Bom Jesus, adquirida pelo páraco de então, Pe. José António Ferreira Porto, natural de Santa Bárbara.
Em 1889 o Dr. João Paulino de Azevedo e Castro, então Vice-Reitor do Seminário de Angra escreveu a propósito no jornal "Peregrino de Lourdes", que se publicava em Angra:
"Em 1882 no mês de Agosto passava pela freguesia de São Mateus da ilha do Pico, por ocasião da festa que anualmente ali se celebra no dia 6 de Agosto em honra do Bom Jesus um sacerdote da vila das Lajes na mesma ilha. Viu e admirou o entusiasmo religioso da imensa multidão de fiéis que de todos os pontos da ilha e de fora dela ali haviam concorrido impelidos pela devoção à imagem do Senhor ECCO HOMO que sob aquela invocação se venera na igrejada freguesia.
Não é de longa data esta devoção. Há trinta anos ainda não havia a imagem do Senhor que dela é objecto. Contudo é hoje tão popular em toda a ilha e tão conhecida fora dela nas demais ilhas dos Açores e até em países estrangeiros pelos bons filhos destas terras, que durante os dois dias da festa e véspera a igreja, suas imediações e as ruas principais ofereciam de contínuo espectáculo dum formigueiro de povo, que se comprimia, acorovelava e remexia em todos os sentidos.
"Na igreja dois amplos, tabuleiros cheios de dinheiro quase todo de prata, e a medir ao alqueire, atestavam a confiança que o bom povo deposita na devoção ao Senhor Bom Jesus. Dizia-se que um devoto chegado dos Estados Unidos ofertara À imagem a avultada quantia de 200$000 reis."
A festa ao Bom Jesus da Calheta de Nesquim continua a realizar-se no dia 6 de Agosto, embora com menos frequência. E tanto assim que os povos daqueles lados da Ponta, quando se referem ao Bom Jesus de S. Mateus, costumam dizer que "vão à festa do Bom Jesus de Longe"...
Na Criação Velha, dada a proximidade desta freguesia com a de São Mateus, celebram desde há anos, a festa do Bom Jesus no domingo anterior ao 6 de Agosto.
Não carece de anúncios, nem cartazes de propaganda a Festa do Bom Jesus, para que o povo acorra a S. Mateus nos dias 5 e 6 de Agosto, a prestar as suas homenagens ao Senhor do Pretório.
Desde à um século e meio até aos dias de hoje, o povo ali acorre para agradecer graças recebidas e impetrar novas graças. Os festejos externos, que os há, não são de atrair os devotos. Mais forte é a devoção.
Já não se fazem as romarias como antigamente, pois os transportes são tantos que permitem as deslocações com uma maior facilidade. Mas não deixam de ser algo de belo as romarias a S. Mateus. Normalmente eram oito dias de viagem, na volta À ilha, pois não existiam as estradas que só apareceram a meados do século passado (Séc. XX). E se não era de grande devoção esse caminhar fatigante, embora muitos dos romeiros fizessem promessa de entrar em todas as igrejas do percurso, nem por isso deixava de ser um acto penitencial, e que proporcionava momentos de fraterno convívio!
Ainda nos dias de hoje é possivel ver algumas pessoas a "pagar" as suas promessas ao Senhor Bom Jesus nas suas longas caminhadas de casa à Igreja do Senhor, para agradeçer as graças concebidas!

As tradições que movem centenas nos Açores e por todo o Mundo!


Toda esta informação dos costumes e tradições da Ilha do Pico podem ser encontrados nos Quiosques de Turismo  da Ilha do Pico, no Livro "Álbum da Ilha do Pico" de Ermelindo Ávila que se encontra para venda.

Baseado em: "Álbum da Ilha do Pico" de Ermelindo Ávila

3 comentários:

  1. Quanto à frase:
    "A festa so Bom Jesus da Calheta de Nesquim continua a realizar-se no dia 6 de Agosto, embora com menos frequência."
    Explique-me lá como é que, uma festa anual, que é realizada anualmente, sem interrupção, é realizada "com menos frequência"????

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    1. Boa tarde,
      Agradecemos desde já o seu comentário.
      E em resposta ao mesmo, a frase: "A festa ao Bom Jesus da Calheta de Nesquim continua a realizar-se no dia 6 de Agosto, embora com menos frequência." Encontra-se no livro "Álbum da ilha do Pico" editado em 2008 na página 149, e a "frequência" a que o autor se refere é ao nível do número de pessoas que adere à festa.
      Espero ter conseguido esclarecer a sua dúvida.

      Com os melhores cumprimentos,
      Susete Ferreira

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