A Lenda dos Bois do Espírito Santo

 

Há anos atrás e tal como ainda hoje, havia muita fé no Espírito Santo.

No Topo e em outras freguesias, faziam-se bodos fartos e divertidos. Havia foliões, bodo de leite de manhã e distribuição de sopas e carne a quem aparecesse a partir do meio-dia.
Num certo ano previa-se que as festas em honra do Divino Espírito Santo fossem ainda mais fartas e alegres porque um homem da Vilaque costumava fazer a Festa Velha tinha prometido fazer um jantar e dar esmolas de carne e pão por toda a freguesia. Para tal tinha dois bois a engordar no verdejanteIlhéu do Topo, separado de terra por distância de umas centenas de metros. O gado ía e vinha a nado do ilhéu, apoiado numa corda que homens, num barco, puxavam para cima, para que a cabeça dos animais ficasse fora de água.
O mês de Maio já se ia aproximando do fim e tinha trazido consigo o bom tempo, mas, na semana da festa, o vento levantou-se e o mar embraveceu. O mordomo começou a ficar muito preocupado. Com a maresia, não conseguia sair ninguém de barco de maneira a trazer os bois do ilhéu. Consumiu-se muito e, vendo que o tempo não melhorava, na quinta-feira tomou outra solução: foi comprar dois bois para pagar a sua promessa. Porém, não andava descansado pois os bois prometidos eram de facto os outros que tinham ficado no ilhéu. Mas o Senhor Espírito Santo era testemunha que não tinha sido por má vontade, nem por ganância que tinha decidido matar outros animais.
Na sexta-feira, antes do domingo da Festa, o homem, ajudado por muitos vizinhos e amigos, preparou-se para matar os bois comprados.
Quando estavam nestes trabalhos, perante o olhar admirado de todos, apareceram os dois bois grandes e gordos que deveriam estar no ilhéu. Tinham-se lançado ao mar e vindo ter à Pontinha, onde hoje é o farol. Todos se perguntavam como aquilo podia ser e ficaram ainda mais admirados quando viram que os bois estavam completamente enxutos como se não tivessem vindo a nado, mas como que trazidos pelo Espírito Santo, para a sua própria morte.
Muitos choravam de emoção e o mordomo ficou tão contente que matou também aqueles que tinham sido os bois prometidos e que, no dia aprazado se tinham vindo entregar.
Naquele ano a coroação e as esmolas foram ainda mais abundantes e todos comentavam, com uma lágrima a escapar pelo canto dos olhos, o caso estranho que tinha acontecido com os bois.
 

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