O Natal como era vivido nos Açores.


Os povoadores, à medida que se foram estabelecendo nas ilhas, procuraram viver todas as festividades, à semelhança do que se fazia no reino, como é o caso das vivências natalícias, que se celebravam mesmo “em cima do dia”. No dia 24 de Dezembro enfeitava-se a casa para a festa. No meio da casa, quarto de encontro de toda a família, punham-se ramos de faia ou de laranjeira contra as paredes, e cobria-se com feno ou verdura. Na cómoda ou então numa mesa encostada à parede armavam “altarinho”, espécie de trono, onde o Menino Jesus, normalmente vestido com saia e corpete de seda bordada a lantejoulas, era colocado de forma a ficar bem visível. Tudo à sua volta era enfeitado com velas de estearina decoradas, jarras com flores, bonecos de barro, frutos da época e mais tarde com postais vindos dos países de emigração, mais propriamente da América dó Norte. 

 Tal como ainda hoje se faz, no dia de Santa Luzia, 13 de Dezembro, colocava-se o trigo e a ervilhaca de molho, para depois ser semeado em gamelas de madeira e no dia de Natal servir de decoração. Muitas vezes organizava-se ranchos de tocadores de viola e cantadores que iam dar as boas festas a casa de pessoas amigas e familiares. Na noite da consoada, as famílias passavam pelas casas uns dos outros para verem o menino, e dirigiam-se depois para a Missa do Galo. Quem não tinha família recolhia-se como se de um dia normal se tratasse, acordando na manhã seguinte, com os sinos a anunciar a festa. Eram muito poucas iguarias existentes e o serão de Natal passava-se comendo figos secos e alfarrobas. Bebiam a tradicional “mijinha do Menino Jesus”, denominação que hoje é atribuída a todos os licores caseiros próprios da época, como o de tangerina, o de leite e o de vinho. 

 No dia da festa, o jantar, para além de ser melhorado, era mais abundante. Comia-se caldo de galinha cozida, pão de trigo alvo (a farinha era melhor peneirada), figos passados e nozes, acompanhado de vinho de cheiro. Era costume ainda neste dia,, nos meios rurais, algumas pessoas irem desejar as Boas festas com a imagem do menino deitada numa almofada branca rendada. Nas casas onde entravam todos a beijavam, com alegria, sendo servindo aos visitantes biscoitos, e um cálice da “mijinha do Menino”. A decoração da casa permanecia até ao dia de Reis, não havendo nada de especial na noite e Ano Bom, a não ser o facto dos parentes e amigos se visitarem para desejarem os Bons Anos, demorando pouco tempo em cada casa. Tal como antigamente, há famílias que, entre si, distribuem moedas, para que o novo ano seja endinheirado. Outra tradição, que ainda permanece em alguns lares, é a de que no dia 1 de Janeiro a primeira pessoa a entrar nas casas seja homem, para que o ano seja afortunado. 
 O natal de antigamente era uma festa muito simples, diferente daquela que temos hoje em dia. Tudo era preparado em cima do acontecimento e as prendas, quando existiam, eram objectos que as pessoas necessitavam, valorizando-se mais o convívio familiar do que a troca de presentes. Procurava-se passar algum tempo com a família, comendo coisas simples e de fabrico caseiro que nada têm a ver com os jantares complicados e as mesas requintadas do Natais de hoje.

Fontes: 
Cabral, Conceição Melo. Melo, Osiria Maria. Açores Quem Somos Porque Somos. Publiçor, S. Miguel, 2010

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