Na crista da enorme cordilheira, que atravessa a ilha de São Jorge de
ponta a ponta, erguia-se, há muitos, muitos anos atrás, o majestoso
castelo do príncipe Romualdo. A sua corte faustosa entregava-se a
orgias, banquetes e outras diversões, que causavam espanto na população
trabalhadora.
Uma madrugada, a trombeta real ecoou através das montanhas, anunciando a grande caçada que iria começar ao toque das Avé-Marias.
Em frente ao palácio foram estacionando as seges, os
cavalos, muitos criados de libré, carregados com os apetrechos
destinados à caça.
Os pobres e maltratados trabalhadores do campo já
tinham começado mais um dia de trabalho duro, quando o segundo toque de
trombeta soou e a comitiva do príncipe partiu a grande velocidade, rindo
de alegria ao galgar os montes.
Os torcazes voavam espavoridos pela gritaria, e
Lina, amada do príncipe, serpenteando com o cavalo por entre as urzes e
rochedos em perseguição de alguns pombos que lhe fugiam, acabou por se
afastar da comitiva.
Quando deram pela sua falta, esqueceram a caça e
procuraram Lina por todo o lado, mas não a encontraram. Voltaram ao
palácio, a alegria dera lugar ao desânimo e tristeza.
O príncipe mandou encerrar todas as portas, as
festas e diversões e, durante as noites e dias seguintes, a sua voz
soluçante gritava: "Lina! Lina!", enquanto corria como louco esfarrapado
e desgrenhado por precipícios e ravinas à procura da amada.
Uma noite, quando voltava ao castelo, Romualdo
estacou com um quadro terrível. No fundo de uma ravina, um cavalo morto
esmagava com todo o seu peso a querida Lina. O príncipe, correndo,
desceu o precipício, beijou o cadáver em petrufacção e entre lágrimas
cortou uma trança dos seus lindos cabelos louros. Apanhou um ramo de
urze e aí enrolou a trança.
Voltou ao castelo, desalentado, como morto. Nunca
mais quiz saber de festejos e os cortesãos começaram a chamar áquela
planta "Urze de Lina".
Passado pouco tempo, o príncipe morreu de desgosto
e, com o correr dos anos e o esquecimento da hipócrita corte que o
adulava, a sepultura ficou completamente coberta de "Urze de Lina".
Em homenagem à dor do príncipe que Deus duramente
castigara, chamou-se "Urze de Lina" e mais tarde por aglutinação
"Urzelina" à povoação à beira-mar, onde faziam eco as atrocidades
praticadas no castelo e onde vivia o povo que sofria a tirania dos
cortesãos.
A corte aduladora e hipócrita, sem respeito pela
morte do príncipe, redobrou as festas e a tirania ao povo, mas foi
castigado. Deus, que vela pelos pobres, fez rebentar um vulcão nos
alicerces do palácio, a lava soterrou toda a corte maldosa e destruíu
tudo à volta, correndo até ao mar.
Fonte de Texto: Casa dos Açores Ontario
Fonte de imagem: Urzelinatur
Sem comentários:
Enviar um comentário