Crónicas, contos e narrativas do passado, contadas por Francisco Medeiros


Hoje trago aqui uma crónica/artigo de Francisco Medeiros, homem este que poderia chamar de "enciclopédia ambulante dos Açores", isto pelo fato deste senhor ter conhecimento de várias estórias que nos fazem recuar no tempo, estórias estas que retratam o povo Açoriano e suas vivências.

 Apesar de escrever seus artigos há muitos anos, nos jornais picoenses e no blog "A Sombra do Vulcão", manteve a herança genética, vocacional de sua avó, Amélia Ernestina Avelar, poetisa, de grande valor, ao lançar sua obra literária “Homens de Olhos Encovados & Outras Estórias de Homens do Mar” lançado na Feira do Livro do Cais Agosto 2012.
Francisco Medeiros, inspirado por Almeida Firmino, o Caldeira, poeta que conheceu, que dá nome a rua onde reside em São Roque do Pico, é um saudosista, cujo realismo nos seus artigos, nos remete ao passado. Mas é no mar que tem sua principal fonte de inspiração. Almirante reformado, respeitado por onde passa e por onde passou, hoje é conhecido por  muitos pelo senhor "Cabo do mar".
 
Fica aqui um dos seus artigos, este, acerca da ilha do Corvo.
Corvo: http://myguide.iol.pt/profiles/blogs/passeios-ca-dentro-corvo-a
 
Ilha do Corvo vivências - meios de comunicação:
 
Na Ilha do Corvo em 1959, existia uma estação de correios dos CTT, no edifício da Estação Meteorológica do Corvo situado a cerca de um quilómetro da Vila em local sobranceiro ao pontinho da areia com um funcionário Manuel Patrício, chefe da estação, e um carteiro, de nome Jorge para onde era encaminhado e recebido todo o correio.
 
No dia que o navio escalava o Corvo, pelo menos uma pessoa de cada casa se deslocava à estação, para receber correio, quando assim não acontecia a distribuição era feita no outro dia.
A Estação dos Correios estava ali instalada em virtude daquela Estação Meteorológica possuir um rádio de comunicações TSF, pelo sistema Morse, operado pelo chefe, por onde eram transmitidos e recebidos todos os telegramas.
 
A Ilha do Corvo possuía uma das mais importantes estações meteorológicas do Arquipélago, e possivelmente do Atlântico Norte. Funcionando em regíme de observações, 24 horas dia, com 4 observadores meteorológicos: Fernando Rocha, Óscar da Rocha, António Luis André e Carlos Corvelo e um contínuo Manuel Joaquim Vicente, que também fazia observações.
Da leitura dos aparelhos de observação de hora a hora, era elaborada uma mensagem em código com grupos de cinco algarismos, transmitida pelos observadores pela TSF. A mensagem era transmitida para a Estação Radionaval das Flores, passava pela Estação Radio Naval da Horta e dali até centro de Previsão em Santa Maria que elaborava a previsão para todo Arquipélago.
Não havia telefones nem comunicações radiotelefónicas com o exterior.
Outros meio de comunicação com o exterior, além do navio Carvalho Araújo, que mensalmente escalava a Ilha, havia os navios Cedros e Arnel da Empresa Insulana de Navegação. Estes navios por vezes não tinham contato com a terra em virtude das condições do tempo não o permitir. Quando assim era provocava algumas carências de bens alimentares e outros.
Navio Carvalho Arújo
Além dos navios havia uma pequena lancha a motor de boca aberta de Gregório Luis André, policia reformado, que era seu proprietário e mestre. Esta lancha fazia contatos entre a freguesia de Ponta Delgada (Ilha das Flores) e a Vila de Santa Cruz das Flores, pois aquela freguesia a mais Ocidental de Portugal não era servida por estrada. Esta lancha fazia algumas viagens à ilha do Corvo, transportava a mala de correio, alguns passageiros e pequenas encomendas.
Os barcos do Corvo que faziam o transporte de mercadorias e passageiros aos navios que faziam escala na Ilha, também quando as necessidades a isso obrigavam faziam algumas viagens às Flores.
Eram armados com 4 remos, utilizavam uma vela latina triangular, suportada por uma vara em madeira, fixa pelo meio a um curto mastro na bancada central.
 
Navio Cedros
"Fiz uma viagem num destes barcos do Corvo para Santa Cruz das Flores, que durou quatro horas num percurso de 15 milhas. Viagem com pouco vento, que de vez em quando amainava, ficando o barco parado. Recordo-me que com a sua fé os tripulantes oravam à “Coroinha” de São Lourenço, para que mandasse vento mas com moderação."
 
Navio Arnel
Quase todas as famílias possuíam um recetor de rádio alimentado a pilhas ou baterias carregadas com aérodinamos de onde ouviam notícias.
De uma maneira geral o Corvino procuravam informar-se do que se passava no Arquipélago e no País. Além disso alguns recebiam revistas e jornais que chegavam do exterior.
 
Francisco Medeiros, Vila de São Roque do Pico
 
Fonte:
Andreia Goulart

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