Há muitos anos, na freguesia de Água de Pau, na ilha de São Miguel, vivia na Rua da Boavista,
um casal com uma filha única, já crescida.
O homem da casa era um honrado
camponês de poucas posses. Para arranjo da vida costumava ter uma porca de
criação, um regalo de animal, mansa e de boa criação, que
paria duas vezes por ano. Era um animal muito estimado por ser muito
paciente e também porque, com a venda das crias, a família fazia dinheiro
para pagar a dívida da mercearia e outras pequenas contas em atraso.
Logo de manhã, a primeira coisa que o dono fazia era ir ao pé do curral ver a porca, acaricia-la com umas palmadas no lombo em sinal de
carinho. Por vezes levava-lhe uma tigela de milho em grão.
Certo dia, ao aproximar-se do curral, não viu a porca lá
dentro, aflito correu a avisar a mulher e começaram a lamentar-se. O alarme foi
grande e logo apareceram alguns vizinhos, e decidiram ir também à procura do animal desaparecido. Correram ruas e canadas dos arredores. Bateram palmo a
palmo a freguesia, mas nada encontraram. Foram depois para mais longe.
A filha
da casa, vendo os pais aflitos, também se pôs a procurar. Tanto que ela gostava
dos leitõezinhos que a porca levou consigo!
Lembrou-se de subir o Pico e qual não foi o seu espanto, quando ao
olhar para o caldeirão que ficava na cratera, viu lá em baixo a porca deitada e
rodeada pelos leitõezinhos. Radiante de felicidade e não sabendo como tinha a
porca ido ali parar, a rapariguinha gritou:
- "A porca furou o Pico! A porca furou o Pico!"
Trouxeram o animal para o pátio e tudo voltou à normalidade. Mas a
frase pronunciada ingenuamente pela menina nunca mais foi esquecida e, ainda
hoje, as pessoas que ali passam de carro ou camioneta, principalmente
excursionistas, perguntam ironicamente : "Foi aqui que a porca furou o
Pico?". Os habitantes da da vila, sentindo-se apelidados de ingénuos, reagem soltando pragas e fazendo gestos de revolta e fúria.
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