O centenário do nascimento do pintor e poeta António Dacosta, um dos pioneiros do surrealismo em Portugal, está a ser assinalado nos Açores, de onde é natural, com diversas iniciativas
Em Angra do Heroísmo, onde Dacosta nasceu, a 03 de novembro de 1914, e viveu até ir estudar para Lisboa, o museu assinala o aniversário, hoje, com o lançamento de um livro, a abertura de uma exposição e uma conferência proferida pela historiador e crítico de arte José Luís Porfírio.
O livro "António Dacosta: A Clarividência da Saudade", da autoria da historiadora de arte Assunção Melo, aborda as principais obras do pintor como resultado de uma confluência entre a memória das ilhas e o contacto com as vanguardas.
"António Dacosta, um Pintor do Século XX" é uma exposição itinerante idealizada pelo comissário Francisco Pedroso Lima, que é constituída por cerca de trinta peças do pintor e por um conjunto de 16 painéis encapsulados que ilustram a sua vida e obra.
José Luís Porfírio, que é também curador de uma exposição sobre António Dacosta patente no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, salientou, em declarações à Lusa, que o pintor açoriano sempre trabalhou para Portugal, apesar de ter vivido a maior parte da sua vida em Paris.
"António Dacosta funcionou sempre em função de Portugal e até mais, em certos casos, em função dos Açores", frisou, explicando que nos primeiros trabalhos e, sobretudo, na última fase da sua pintura, se encontra uma influência da terra onde nasceu.
O pintor açoriano nunca inaugurou uma exposição em Paris e José Luís Porfírio diz que ele não emigrou com o objetivo de se tornar num grande pintor, mas quando ganhou uma bolsa não hesitou em mudar-se para Paris e acabou por não regressar a Portugal.
"O António Dacosta não era um homem para ficar em Lisboa, num ritmo lisboeta, no 'ram ram' lisboeta, na conversa de café. Embora tivesse feito muita conversa de café em Paris, sempre era um ambiente mais exigente", frisou.
Dacosta inaugurou a primeira exposição surrealista portuguesa, embora tenha sido António Pedro a importar o surrealismo em Portugal.
Pintou a bom ritmo entre 1939 e 1942, mas depois começou a dedicar-se mais às críticas de arte e deixou de pintar para o público em 1948, um ano depois de se mudar para Paris.
Para José Luís Porfírio, o pintor desiludiu-se com a cidade mítica onde "já estava tudo feito" e o desenvolvimento da pintura abstrata não o cativou.
Só voltou a pintar na década de 1970, quando se mudou com a mulher e os filhos pequenos para o campo, por isso, a segunda fase é caraterizada sobretudo pela infância dos filhos e pelas recordações dos Açores.
O Governo Regional dos Açores tem assinalado o centenário do nascimento de António Dacosta, a 03 de novembro de 1914, durante todo o ano, com atividades em diversas ilhas.
Para além de conferências e exposições, Dacosta, que morreu a 02 de dezembro de 1990, aos 76 anos, foi lembrado em pacotes de açúcar que circularam na região com seis imagens de obras emblemáticas do pintor.
O executivo açoriano criou também um prémio para pintores, com o nome de Dacosta, e colocou à venda uma agenda personalizada intitulada "António Dacosta - Pintor Europeu das Ilhas", como lhe chamou Vitorino Nemésio.
No dia em que faria cem anos, será lembrado pela sua escrita, numa conferência na Biblioteca de Ponta Delgada, com Leonor Sampaio e Ana Gil.
Um dia depois, na secção infanto-juvenil da Biblioteca de Angra do Heroísmo, Paulo Freitas dá a conhecer aos mais novos "António Dacosta: um menino que pintou sonhos e palavras".
Fonte:http://www.acorianooriental.pt/noticia/acores-celebram-centenario-do-nascimento-do-pintor-antonio-dacosta
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