A
Reconstituição de qualquer erupção vulcânica ocorrida em tempos históricos,
isto é pós povoamento, suporta-se, numa primeira abordagem, na análise cuidada
dos documentos históricos que chegaram até aos nossos dias.
Ao
longo da história humana do Pico, isto é, desde que a ilha foi ocupada em
meados do séc. XV, há que referir a ocorrência de três erupções subaéreas (terrestres),
respetivamente nos anos de 1562/64, 1718 (com dois focos eruptivos, um no lado
norte da ilha e outro no lado sul) e 1720, e uma erupção submarina em 1963.
Considerando
que a erupção de 1562 se reporta a um período muito próximo do inicio do
povoamento da ilha pouca informação histórica está disponível. Neste contexto
salienta-se o relato de Diego Diez, Juan Rodriguez e Pedro Mozillo,
respetivamente mestre, piloto e escrivão do navio Espanhol Nuestra Señora de la
Luz, do qual se depreende que a erupção era vista com enorme grandiosidade nas
ilhas vizinhas aterrorizando a população destas e levando a que uma parte dos
habitantes da ilha do Pico a abandonasse. É evidenciado, ainda, no doc. do
emitido por Diego Diez, Juan Rodriguez e Pedro Mozillo a existência de
bocas-de-fogo de onde partiam doze ribeiras de fogo.
Dr.
Gaspar Frutuoso, também contemporâneo desta erupção, descreve-a mais
pormenorizadamente, Posteriormente, outros narradores igualmente abordaram
alguns aspectos da mesma, tais como Macedo (1871), Castro (1879) e Weston
(1964).
Livro:
Ilha do Pico – “Erupção de 1562-64 / 450 Anos Após”
Zilda
Melo França, Vitor Forjaz, Luisa Pinto Ribeiro, Igor França e Gene Neves
“Como tenho dito, na era
de mil e quinhentos e sessenta e dois, a vinte de Setembro, dia de São Mateus,
uma légua da vila de São Roque, caminhando pera Prainha do Norte, em cima, no
cume da serra, quase da banda sul, como espaço de três léguas da faldra do
Pico, ficando, ele pera banda de loeste, tremendo primeiro a terra em um terço
de hora dezasseis vezes, com contínuos e horrendos abalos e tão grandes
estrondos, como de grossas peças de artilharia, em um lameiro arrebentou o
fogo, fazendo cinco bocas muito grandes, sendo uma delas a principal e maior,
de que manou uma grande ribeira de polme, que correu pera banda do norte por
espaço de légua e meia até cair pela rocha abaixo e fazer grande cais abaixo da
rocha, onde se espraiou aquele polme e se tornou pedra viva, em que se não pode
pôr pé descalço, nem se cria nenhum género de erva, nem mato, até hoje, senão
em alguma parte onde se não acabou de cobrir daquele polme; cobrindo muitas
terras de homens ricos, que com isso ficaram pobres, por perderem ali suas herdades
e fazendas, com que agora nem eles, nem seus filhos, têm que comer. E com o
grande fogo que ali se acendeu, se alumiavam ali todas aquelas ilhas em redor,
e a esta de São Miguel chegou a sua claridade e pareceria a noite dia, e, com
temor de se cobrir toda a ilha do Puco daquelas ribeiras de fogo, fugindo dela,
muitos dos moradores se embarcavam pera outras ilhas com a mais pressa e diligência
que cada um podiam, com quase ficou, então despovoada, principalmente dos
coimarcãos e vizinhos daquela banda do norte, onde aconteceu a maior força
daquele sucesso.”
Transcrição
adaptada do original do Dr.Gaspar Fructuoso
(Ed.Instituto
Cultural de Ponta Delgada, 1978)
Livro: Ilha do Pico – “Erupção de 1562-64 / 450 Anos Após” Pág.19 |
Esta não é uma lenda é algo que o povo Açoriano testemunhou, mais um acontecimento que caracteriza ou explica talvez, o porquê de termos esta personalidade que tanto nos caracteriza, ao mesmo tempo bravos e sensíveis. Esta erupção foi a mais longa do arquipélago dos Açores pós-povoamento. Hoje é chamado de "Mistério da Praínha" e em vista aérea notamos a diferença na vegetação. Nestes campos de lava desenvolveram-se diversos cobertos vegetais com elevada concentração de plantas endémicas.
Vista do Miradouro do Parque Florestal da Praínha |
Sem comentários:
Enviar um comentário