A Graciosa, à semelhança de outras ilhas dos Açores, era
assolada em tempos muito antigos por abalos de terra e rebentamentos de
vulcões. Por isso todos os seus Picos, que são muitos, são rebentados, isto é,
já deram sinais de vulcanismo. Assim aconteceu ao Pico Timão, ao Pico da
Hortelã, ao Pico das Bichas ou ao Pico da Brasileira, que, em tempos distantes,
foram lugares onde vulcões violentos se manifestaram, lançando fogo e lava. Só
o Pico da Ladeira nunca rebentou.
A Ladeira, que se
avista de vários pontos da Ilha Branca, é formada por um terreno muito húmido e
pantanoso, por conter no seu interior grandes quantidades de água. Até hoje
este pico nunca rebentou porque está protegido por três Marias. Numa ponta,
sobre um monte sobranceiro a Santa Cruz fica a Senhora da Ajuda. Quase ao
centro da ilha, está Nossa Senhora do Guadalupe, que é comadre da primeira
Santa: Na outra ponta da ilha, na Praia, é a morada da Senhora Santa Ana, mãe
das outras duas Santas. E a força protectora destas três Santas que defende a
Ladeira.
Se algum dia esta
protecção deixar de se exercer, o Pico da Ladeira rebentará e, do seu interior,
será lançada, não lava escaldante, mas a grande quantidade de água hoje contida
no seu interior. E tanta, tanta água que a Graciosa será arrasada. Então vai
ser o fim, mas também o princípio porque a verdadeira Graciosa, a que está
encantada, há-de aparecer e ocupar o lugar deixado por este ilhéu da Graciosa,
onde agora vivem os da Graciosa.
Muitas vezes a
verdadeira ilha Graciosa tem aparecido a quem tem o poder de ver ilhas
encantadas. Na noite mais pequena do ano, a noite de S. João, entre as onze
horas e a meia-noite, surge toda iluminada, no mar, para as bandas do oeste, do
lado de fora da Beira-Mar da Vitória. Só aparece por instantes e logo
desaparece, permanecendo encantada, como muitas outras ilhas nos mares dos
Açores, até que chegue o momento do desencantamento.
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