Estava-se no Ano
da Fome. A seca no Pico tinha sido tão grande que muito milho semeado não
nasceu e o que nasceu não chegou a espigar, muito menos a dar grão. As pessoas
apanhavam socas de jarro, raízes de feito e faziam papas e bolo para se
alimentarem. Vieram navios da América com farinha, açúcar e outros alimentos,
mas mesmo assim não dava para sempre nem para todos. Porém as pessoas tinham
muita fé no Espírito Santo e não gastavam aquilo que lhe tinha sido prometido,
mesmo que passassem muitas necessidades.
Duas irmãs de
Santa Bárbara tinham só dois sacos de trigo do ano anterior, guardados para as
festas. Puseram-nos sobre tábuas estendidas por cima dos tirantes para estarem
mais arejados e guardados dos ratos. Não queriam gastar desse trigo porque era
para pagar a sua promessa e iam-se amanhando muito mal. Acabaram por ver-se tão
aflitas que fizeram um buraquinho no saco com uma agulha para tirarem um
grãozinho de cada vez. Assim iam enganando a fome e poupando o trigo.
Chegou-se perto
da festa. Os sacos continuavam sobre os tirantes, mas já não estavam cheios.
Uma noite, quando as duas irmãs estavam deitadas na sua cama a descansar,
sentiram cair trigo no chão da casa. Ficaram aflitas e uma disse para a outra:
— Olha, devem ser
os ratos que tão a dar cabo do trigo.
Mal disse isto,
levantaram-se e foram ver o que se passava. Para espanto destas os sacos
estavam cheios pelas pontas e no chão ainda havia um grande monte de grão.
O Espírito Santo
tinha visto o sacrifício das duas irmãs e quis compensá-las. Assim tiveram
abundância de trigo para pagar a promessa e ainda para fazerem pão para comer.
Fonte: http://www.lendarium.org/narrative/o-ano-da-fome/
Gina Maciel
Sem comentários:
Enviar um comentário