Ilda Henriques é queijeira, distribui, vende e recebe os turistas que se deslocam
à Queijaria “Pico Redondo”, na Fajãzinha das Flores. Com mãos sábias e experientes,
que tanto ajudam o marido na exploração como embalam os dois tipos de queijo
produzidos, Ilda Henriques explica que os turistas gostam muito de visitar a
pequena queijaria e provar o produto final. O segredo para os seus queijos, que também
já podem ser encontrados em São Miguel, é o facto de usar apenas leite da sua exploração
Na Freguesia da Fajãzinha, na ilha das Flores, a rua do Pico Redondo é também sinónimo de um dos melhores queijos que se faz naquela ilha. O casal Ilda e Francisco Henriques decidiram rentabilizar o leite que tiravam da exploração que têm naquela freguesia e começaram a fazer queijo fresco. Inicialmente era apenas para consumo próprio, mas depois o queijo fresco feito pelas mãos de Ilda Henriques começou a ganhar fama e começou a chegar a algumas casas na própria freguesia e pela ilha.
Feito de uma forma artesanal e sem qualquer tipo de controle, o casal decidiu apostar na qualidade e em 2006 abriu portas oficialmente como queijaria tradicional.
Ilda Henriques, que se dedica à confecção, distribuição, venda e até de guia turística quando é necessário, conta que na altura foi complicado tratar de toda a papelada para conseguir abrir a queijaria com todos os requisitos legais para poder produzir o queijo fresco artesanal. No entanto, refere que “o Governo ajudou-nos a fazer este projecto” apesar da burocracia necessária.
Durante dois anos a queijaria foi confeccionando apenas o queijo fresco, mas em 2008 Ilda Henriques conta que começaram a apostar também no queijo curado “Pico Redondo”. “É um queijo de pasta mole, que não é picante, é amanteigado, é o tipo de queijo tradicional de cá” e que não requer muito tempo de cura já que “leva geralmente entre 10 a 15 dias a curar”.
A queijeira, única funcionária da queijaria, não consegue quantificar a quantidade de queijos que faz por dia ou por mês, mas indica que tudo depende “do leite que temos”. Geralmente no Inverno as vacas produzem menos leite e “por isso há alturas em que laboramos 100 litros e outras alturas em que laboramos 50 litros”, refere. Já no Verão, quando há maior produção de leite, “a partir de Abril até Setembro”, é quando são laborados cerca de 220 ou 230 litros.
Ilda Henriques admite que, mesmo assim, “não é muita qualidade” já que além de usarem apenas a sua própria exploração, apenas oito vacas é que produzem o leite necessário para laborar.
“O melhor queijo do mundo”
Esse é talvez o segredo para o queijo “Pico Redondo” ser considerado “um dos melhores do mundo”, ou pelo menos o melhor da ilha das Flores. É esse o entendimento de quem visita a queijaria e, especialmente, dos filhos de Ilda e Francisco Henriques. “Nunca houve ninguém que provasse, pelo menos na minha frente, e que dissesse que não gostava”, afirma.
Ilda Henriques explica que “não há segredos” na confecção do queijo que vende mas admite que “talvez um dos maiores segredos se deve ao facto de ser usado leite apenas da minha exploração. Se fosse feito com leite de outros sítios, talvez alterasse a qualidade do queijo, por isso acho que o maior segredo é esse”.
O marido, Francisco, é o responsável pela exploração onde Ilda também ajuda quando é necessário. E a prova de que a queijaria além de tradicional é familiar é que também os filhos do casal, quando regressam à ilha de origem “também ajudam” na distribuição.
“De resto sou só eu”, responde Ilda Henriques quando questionada sobre o período em que os filhos não ajudam.
Com a queijaria situada na Fajãzinha, Ilda Henriques admite que é um pouco complicado distribuir o seu queijo nos cerca de 12 postos de venda por toda a ilha mas “em quatro horas consigo dar a volta à ilha” e faz o mesmo percurso duas vezes por semana. “A ilha também não é muito grande”, brinca ao acrescentar que já foram mais os postos de venda, que entretanto encerraram. “Já houve restaurantes onde eu ia e que depois desistiram e alguns fecharam. Desde 2006 até agora tenho numa lista de gente na facturação que não está activa”, refere.
Pode ser provado em São Miguel
Além dos postos de venda nas Flores, Ilda Henriques também faz chegar o seu queijo a São Miguel, que se vende na loja “Rei dos Queijos” em Ponta Delgada, e à vizinha ilha do Corvo. “Já mandei queijos para a Terceira mas já desisti”, confessa ao acrescentar que por enquanto se vai ficar pelas encomendas que envia para as duas ilhas referidas, especialmente no Verão quando tem uma maior produção, embora garanta que durante todo o ano também é possível encontrar o queijo “Pico Redondo”.
Ilda Henriques refere que para poder enviar mais queijos para fora das Flores “precisava de ter uma produção maior”, o que nem sempre é possível. Por isso, acrescenta que não é possível pensar em fazer chegar o queijo “Pico Redondo” ao continente. “O meu filho, que está lá, está sempre a dizer isso mas não é fácil. Era preciso uma produção maior e o transporte também é mais complicado”, admite.
Já para enviar os queijos para São Miguel e para o Corvo “fica um pouco caro”, mas o investimento é comparticipado em 90% por parte do Governo Regional “o que é uma coisa boa”, admite. No entanto, “para isso tem de se tratar de muita papelada e há muita burocracia”, refere Ilda Henriques.
Ponto de atracção turística
A pequena queijaria tradicional do “Pico Redondo” é ponto de paragem quase obrigatória para quem visita a ilha das Flores. Os turistas que chegam à queijaria são prontamente atendidos por Ilda Henriques que faz uma visita guiada às instalações e presta esclarecimentos sobre o processo de fabrico, armazenagem e cura. “Os turistas gostam muito de ver, quando visitam a queijaria gostam de ver todo o processo” e no final “muitos levam queijos”.
A queijaria faz parte de um roteiro do INATEL para as Flores e os grupos que chegam à ilha através daquela instituição. “Os grupos grandes que vêm pelo INATEL passam sempre por aqui e gostam muito de ver e de provar o nosso queijo”, admite Ilda Henriques.
A aposta de aliar a queijaria tradicional ao turismo está aos poucos a ser ganha e as Flores ficam assim com mais um motivo de interesse para quem visita o ponto mais ocidental da Europa.
Outros pontos turísticos
Mesmo ali ao lado, entre a freguesia da Fajã Grande e da Fajãzinha, surge a Aldeia da Cuada. O aldeamento turístico é composto por 15 casas de pedra basáltica, cada uma com o seu nome, emprestado pelos antigos proprietários que nos anos 60 deixaram a aldeia ao abandono para procurar uma vida melhor nos Estados Unidos da América.
Propriedade de Teotónia e Carlos Silva, o aldeamento turístico mantém a traça antiga e rural das habitações onde mesmo ao lado a erva está sempre verde em contraste com a pedra dos muros e das moradias.
A Aldeia é protegida e classificada pelo Governo Regional como Património Cultural de Interesse Histórico, Arquitectónico e Paisagístico. A Cuada foi também considerada, em 2011, um dos 50 hotéis mais românticos do mundo pela revista “Travel and Pleasure” e, por isso, não é de estranhar que seja difícil conseguir um lugar numa das casas disponíveis que aliam o passado ao conforto dos nossos dias.
A Aldeia da Cuada fica situada num vale, com o mar em frente e por detrás as quedas de água que descem pela encosta e que se transformam depois no Poço da Alagoinha ou Lagoa das Patas.
http://www.correiodosacores.info/index.php/destaques-esquerda/19306-queijaria-pico-redondo-conjuga-saber-tradicional-com-turismo-para-rentabilizar-exploracao-pecuaria-na-ilha-das-flores
Carolina Simas
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