No século
quinze, vivia na freguesia dos Altares, na Ilha Terceira, uma menina muito rica
cujo seu nome era Pérola Rego, herdeira de uma grande fortuna. Ela era
descendente das famílias Rego e Baldaya pelo lado paterno, e da família
Pamplona pelo lado materno. Pérola Rego era conhecida como uma menina bela, com
cabelos brilhantes como um raio de sol, louros e fartos, de olhos castanhos da
cor do cetim. A sua pele era rosada e fina como a seda.
Sendo ela
conhecida como uma pessoa inocente, bondosa de espírito e coração, tão bela por
fora como por dentro, fez com que um elevado número de rapazes se enamorassem
por ela.
Numa bela manhã ensolarada, Pérola levada por
uma fascinação estranha, desceu o eirado do solar de seu pai e foi espelhar-se
na água da cisterna da casa.
Existia pelas
redondezas uma fada que queria defender Pérola dos pretendentes, pois estes não
a amavam e apenas estavam interessados no seu dinheiro. A fada escondeu-se
dentro da cisterna à espera da rapariga. Fez um encanto e tomou poder sobre a
imagem da menina que se reflectia nas águas paradas da cisterna. Depois começou
a planear uma maneira de a surpreender durante o sono e levá-la para um lugar
seguro no seu castelo encantado, longe dos homens.
O palácio
situava-se no interior da ilha, perto do Pico do Vime e continha lindos jardins
e bosques magníficos com árvores indígenas, tais como o azevinho, o sanguinho,
o cedro e o pau branco. Era rodeado pelos dourados campos de trigo onde se
destacava o enfeito das vermelhas papoilas. No meio dos campos encontrava-se o
enorme castelo.
À meia-noite da
véspera do dia de S. João, quando as estrelas brilhavam na sua plenitude e a
lua já no alto reinava, Pérola foi levada enquanto dormia pela fada nas suas
asas brancas. Na manhã seguinte a notícia do seu desaparecimento foi rápida a
se espalhar, deixando os seus pais em pânico e os seus enamorados em ansiedade.
Em conjunto, os pretendentes foram em busca de uma velha feiticeira que vivia
no cimo de uma serra em que lhes revelou a existência do palácio encantado.
Alguns dos
pretendentes quiseram atacar o castelo, deitando abaixo as muralhas com a força
das suas armas. Outros mais cuidadosos consultaram também uma velha benzedeira
que morava na freguesia dos Biscoitos, que lhes informou que tinham de levar
alaúdes e, à maneira dos antigos trovadores, irem cantando versos mágicos e
executando marchas de magia que ela lhes ensinaria. Assim veriam ao longe o
castelo encantado. Visto que uma coisa encantada só se desencanta com outro
encanto.
A benzedeira
também alertou-os para o facto de que encontrariam uma inscrição sobre um
rochedo e que, se fosse gravado a prata, indicaria o modo de atrair Pérola,
mas, se fosse gravado a fogo, o seu feitiço não tinha força para vencer e
nenhum deles merecia o amor da jovem.
Os pretendentes partiram de madrugada, mal o
sol raiou. Pelos caminhos iam cantando os versos ensinados pela velha
benzedeira dos Biscoitos. Ao fim de muitas horas de caminhada foi ouvido um
grito de alegria. Ao longe via-se recortado na paisagem o palácio da fada, brilhando
à luz do sol nascente.
Assim sendo eles
se apressarão e percorreram o longo caminho até ao castelo. Foi um caminho
longo onde tiveram de descer encostas, percorrer vales, subir serras e colinas.
Ao chegarem ao local onde momentos antes tinham visto nitidamente o palácio,
agora só aparecia uma bela, serena e plácida lagoa de águas claras. Numa das
margens Encontraram logo a inscrição gravada a fogo que dizia o seguinte:
“Aqui, neste espaçoso lago, escondeu-se o palácio da linda Pérola, donzela de
cabelos loiros”. Os homens desiludidos, pensaram que Pérola estava perdida para
sempre e voltaram desiludidos, desistindo da ideia de conquistar Pérola, mas a
mãe da jovem, sendo uma cristã piedosa, na própria manhã do rapto tinha ido se ajoelhar
diante da imagem de S. Roque e pedira a sua intervenção. No fim da prece ouviu
uma voz que lhe segredou:
— Vai tranquila,
a tua filha está entregue ao Anjo da Guarda. Os pretendentes foram vencidos e,
no dia de S. Pedro, à hora do pôr-do-sol, Pérola surgirá no terraço do solar,
acompanhada por um Arcanjo, num batel de marfim puxado por um cisne.
Assim sucedeu. Pérola voltou a casa e alguns
anos mais tarde um bravo e digno cavaleiro que vestia a armadura refulgente do
Santo Gral apaixonou-se e desposou a bela jovem.
O lago que escondeu o palácio encantado lá
ficou, embelezando a paisagem campestre, e passou a chamar-se Lagoa do Ginjal.
Por ali existiu uma ribanceira coberta por um belo ginjal.
© avesdosazores.wordpress.com
Publicado por: Vânia Góis
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