Aos 43 anos, Renato
Goulart tem já contabilizadas mais de 1.800 subidas ao ponto mais alto de
Portugal, o Pico, nos Açores, com 2.351 metros, que redescobre em cada escalada
à montanha que chama de “mágica”.
“Sou, sem dúvida, a pessoa que já subiu mais
vezes ao Pico. Já devo ter passado das 1.800 subidas”, disse hoje à agência
Lusa Renato Goulart, que a montanha, na segunda maior ilha do arquipélago,
levou a que deixasse a empresa onde trabalhava, como auxiliar de ferragens,
para poder fazer das escaladas ao Pico a sua vida.
“A
montanha venceu e eu faço disto profissão há oito anos”, afirmou o
guia-intérprete, explicando que, no verão, há dias em que são três as vezes que
sobe o Pico, na ilha onde hoje o Governo dos Açores prossegue uma visita
estatutária.
Se
a previsão do estado do tempo for boa, a montanha, afinal, é sua todos os dias,
confessou Renato Goulart, exemplificando que, em 2013, “em menos de quatro
meses”, a subiu 100 vezes.
Contas
feitas, por ano, as subidas ao Pico podem ser “150, 160”, declarou o
guia-intérprete nascido nas Lajes do Pico, mas a viver na Madalena, onde está
também a Casa da Montanha, um espaço de apoio a quem quer subir o Pico.
“Apaixono-me
por aquela montanha pela simples razão de, além de ser a minha terra, ser um
polo atrativo de energia. Todas as montanhas são energia, libertam energia e a
montanha do Pico não foge disso”, declarou.
Mas
há outras razões que o levam a não perder de vista o Pico, como a tranquilidade
ou a garantia de, a cada escalada, descobrir algo de novo.
“É
uma sensação especial, é a conquista, a paisagem, as rochas, é saber que é um
vulcão ativo, que estamos acima das nuvens, que podemos presenciar um pormenor
diferente todos os dias. É a sensação de ver um nascer do Sol, um entardecer,
um pernoitar, ver as estrelas, é uma infinidade de tantas coisas que, ao longo
do tempo, nós ficamos apaixonados”, explicou.
Nos
dias de tempo muito bom, quando as nuvens permitem uma visibilidade total, há
mais além da montanha, como ter “o grupo central todo aos seus pés”: o Faial em
frente, viradas a norte São Jorge e Graciosa, e a este a ilha Terceira, além
dos “contornos perfeitos da ilha do Pico”.
A
montanha, que os candidatos a primeiro-ministro António Guterres e Durão
Barroso subiram (comentando-se, então, que quem conseguisse subir o Pico
ganhava as eleições), exige condição física, equipamento devido e recolha
prévia de informação sobre a montanha, fatores que fazem “toda a diferença”,
salientou o guia.
Da
paixão que transformou em profissão, Renato Goulart já levou centenas de
pessoas ao Pico e, das histórias que recorda, há a de uma francesa, integrada
num grupo de 14 pessoas, provavelmente a mulher mais velha a cumprir esta
“proeza” que “não é para todos”.
“Chegar
lá acima e ver aquela senhora, fresquíssima, para mim foi especial, porque não
é todos os dias que se cruza com uma pessoa com 83 anos a subir o Pico, como
ela o fez, em três horas e quinze minutos e a descer em três horas e vinte”,
contou o guia-intérprete.
Menos
positiva é esta coincidência: em dois anos seguidos, no mesmo mês, no mesmo
dia, duas mulheres que Renato Goulart guiava sofreram fraturas e ambas tiveram
de ser resgatadas.
“Em
2015 já não fiz a subida naquela data (…). A montanha está a dar um sinal e eu
tenho que aceitar”, admitiu Renato.
Fonte: http://www.jornalacores9.net
Ana Cabrita
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