Aplicação feita por jovem ucraniano, que esteve na
Roberto Ivens e foi seis anos aluno da Escola Secundária Antero Quental,
informa a que horas a água está quente na Ferraria
“No espaço de um ano comecei a falar português e uns
meses depois já dominava melhor a língua”, justificou Oleksandr quando
questionamos o facto de falar fluentemente português.
“Estive 6 anos na Escola Antero de Quental e entrei
rapidamente no circuito das aulas, acompanhando os colegas sem problemas”,
acrescentou o agora mestre em engenharia informática e de computadores, curso
tirado na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
A ambientação a uma ilha foi rápida. A natureza e o mar
contribuíram decisivamente. “Na Ucrânia só uma vez vi o mar”, começou por nos
dizer Oleksandr, “porque tínhamos de percorrer muitos quilómetros, demorando um
dia e uma noite para cada lado”.
“Sempre gostei imenso de pescar, o que fazia no rio que
ficava mais perto de casa, mas, aqui, na ilha, deslocava-me a pé, para a zona
de S. Roque e ali passava muitas horas do dia a pescar”, continuou a descrever
a paixão pelo mar
“Comecei a aprender a Ferraria com as pessoas da ilha.
Até que chegou à Ferraria.
“Um dia, uns amigos nossos, de nacionalidade russa, que
já viviam em Ponta Delgada, levaram a nossa família a visitar a Ferraria” e ali
“foi amor à primeira vista”.
“É um local diferente de todos os outros. Ter água quente
no mar não é nada vulgar”, sendo, por isso, o lugar de eleição de Oleksandr,
levando alguma vantagem em relação às Furnas.
“Ali descontraímo-nos pelo sossego que nos é oferecido e
não dá para pensar que há magma por baixo, que trata-se de um local com alguns
perigos, havendo uma barreira entre o medo e o prazer”, classificou, Kruk.
Mas não há bela sem senão. Oleksandr critica a falta de
civismo das pessoas que vão destruindo algumas obras que anualmente ali são
feitas, “porque as que a natureza destrói não se podem evitar”.
Mas como saber a que horas está a água quente? Essa era a
pergunta que o jovem de 26 anos de idade fazia com frequência. É que das muitas
viagens à Ferraria, algumas para mostrar a amigos do exterior aquela maravilha
da natureza, encontrou a água fria.
“Aprendi com os locais da ilha que a água começava a
aquecer duas horas antes da maré baixa e ficava fria (da temperatura do mar)
aproximadamente duas horas depois da maré baixa”, foi a primeira conclusão para
a dúvida que o assolava, acabando por comprová-lo ao longo das inúmeras visitas
à Ferraria.
E por que não desenvolver uma aplicação que dê aos
utentes uma informação de que a água estará quente num determinado período do
dia? A ideia foi madurando.
Cedo Oleksandr Kruk começou a trabalhar. Ainda estudante
colaborou com a famosa empresa que criou a MP3. Terminado o curso, várias
propostas surgiram. Esteve em Lisboa durante 3 anos. Percorreu duas empresas,
até que um dia recebeu o convite de uma conceituada firma de Londres, sediada
na zona da City. Em Outubro, três meses após ter contraído matrimónio com uma
jovem micaelense, ambos partiram rumo a Inglaterra. Como têm-no feito várias
dezenas de açorianos.
“Nunca desisti da ideia de criar um sistema que servisse
os interesses dos locais e dos visitantes, cada vez mais a deslocarem-se à
Ferraria”. Assim, quando saía do emprego, ocupava os serões na preparação da
aplicação.
“Já venho há algum tempo trabalhando na aplicação, mas
nos últimos três meses dediquei mais tempo por forma a poder testar nesta
visita à ilha de S. Miguel e verificar se tem interesse e se é útil”, adiantou
Oleksandr Kruk.
Mas como se consegue saber se a água está ou não quente?
“A aplicação ‘Ferraria Hot Springs’ é uma aplicação
nativa do sistema operativo móvel Android. Para poder fazer os cálculos dos
intervalos de horas em que a água está quente, a aplicação acede a um serviço
online que fornece as tabelas de marés. A informação das marés é de seguida interpretada
para poder extrair apenas as horas das marés baixas. Depois de extrair as horas
das marés baixas, basta aplicar uma conta de subtrair e somar (2 horas em cada
sentido) e obtém-se o intervalo em que existe grande probabilidade de a água
estar a uma temperatura superior à temperatura média do mar. Para além das
marés, Ferraria Hot Springs também faz uso de um serviço de meteorologia para
buscar informação sobre o estado do tempo nos intervalos em que a água está
quente e utiliza também o serviço de mapas da Google, Inc. para ajudar as
pessoas a chegar à Ponta da Ferraria.”
A explicação está dada. Nos próximos dias poderá
encontrar-se Kruk de telemóvel na mão a testar se a aplicação resulta.
“Estou preparado para outras funcionalidades e para mais
línguas”
Contudo, este trabalho não tem apenas a criação de
Oleksandr. A parte gráfica é indispensável para atrair os utilizadores. A
resposta estava em casa.
“A minha irmã Maryana, designer, executou a parte
gráfica. Foram feitos vários desenhos por forma a definirmos qual a melhor
forma de apresentar os dados, optando, por fim, por uma versão simplista, que
fosse intuitiva para todas as faixas etárias. Mas é um trabalho de
aperfeiçoamento contínuo”.
Em termos de custos, Kruk apenas despendeu a verba para a
compra da licença de publicação da aplicação na Google Play. Agora, é
necessária a ajuda para que a aplicação seja conhecida. Há a intenção de que
seja colocada nos sites oficiais que estão ligados ao turismo e que as unidades
hoteleiras, as empresas de carros de aluguer e as agências de viagens possam
ser canais de promoção da aplicação, usufruindo de informação privilegiada que
passe aos clientes.
“Se não houver uma boa promoção, o produto morre. Por
isso, espero a colaboração de todos os que estão ligados ao turismo por forma a
que dêem conhecimento. Não é um produto que estou a comercializar. Apenas um
contributo para que haja mais pessoas a visitarem a Ferraria, um dos meu locais
de eleição”, confessou o engenheiro informático, já ligado a grandes trabalhos
na área da infomática.
“Se resultar e se houver um número de consultas que ache
interessante, estou preparado para colocar outras funcionalidades, e traduzir
para mais linguas para além de português, inglês, ucraniano e russo,
disponíveis presentemente e suportar a plataforma iOS”, rematou Oleksandr, que
reconhece estar a correr um risco “calculado”.
Assim fechamos o diálogo sobre esta inovação que ajudará
a que a Ferraria ganhe um maior número de visitantes. A bola está no campo dos
agentes, a começar pela Associação de Turismo dos Açores. Que não desperdicem
esta oportunidade de um jovem que se sente açoriano e quer projectar a terra
que o acolheu.
Fonte: http://www.iloveazores.net/2016/05/nova-aplicacao-informatica-diz-quando.html#.V1MA6VSLQdW
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