Transportes e Comunicações no Passado - Ilha das Flores










Para a ilha das Flores, as comunicações e os transportes, até bem recentemente, sempre foram o seu mais doloroso “calcanhar de Aquiles”. Comunicar com o exterior, através da telegrafia, somente foi possível nesta ilha a partir de 1909, com a instalação da “Rádio-Flores”, e já estávamos em 1925 quando entrou ao serviço público a linha telefónica, ponto-a-ponto, entre as estações telegráficas de Santa Cruz e Lajes. Por essa altura, o vizinho Corvo, quando colocado em situações de emergência médica, comunicava-se com Santa Cruz, donde procurava socorro, através de sinais – três fumos de dia, três lumes à noite, com intervalos, feitos para os lados da Areia. E que dizer dos transportes?! Já na segunda metade do século XIX, o “serviço de paquete” entre esta ilha e a capital do distrito fazia-se, ainda, à vela, em pequeníssimas e frágeis embarcações como o iate Santa Cruz (36 ton.) ou a chalupa Flores (80 ton.), o primeiro perdido num temporal a 29 de Novembro de 1867 na baía de Porto Pim, na Horta, a segunda desaparecida a meio canal entre as Flores e o Faial, com 11 pessoas a bordo, na noite de 8 para 9 de Janeiro de 1874. Até ao estabelecimento das carreiras dos navios mercantes a vapor (o primeiro a escalar a ilha foi o Atlântico, da E.I.N., a 25 de Janeiro de 1875), a irregularidade das comunicações marítimas era tal que, entre duas ligações consecutivas com o Faial – de que são exemplo as dos iates Novo Feliz, a 11/11/1864, e Santa Cruz, a 11/04/1865 –, chegaram a mediar cinco meses.


Mas como tudo isso teria mudado, se o Governo, à entrada do último quartel do século XIX, tivesse aceite a proposta que lhe foi então apresentada por uma companhia estrangeira para fazer passar pelas Flores um cabo submarino que ligasse os Estados Unidos à Europa, obrigando-se aquela a construir um porto de abrigo para 12 navios na baía da Ribeira da Cruz?! Só que Lisboa não gostou da proposta e indeferiu o requerimento – em lugar daquela linha, devia a companhia fazer outra de Lisboa a S. Miguel e ainda mais uma de S. Miguel às Flores. Na disputa haviam-se intrometido, há muito, não apenas S. Miguel mas também o Faial, onde a Junta Geral do Distrito da Horta representou ao Governo, em Novembro de 1880, no sentido de que o cabo submarino entre Lisboa e os Estados Unidos não deixasse de tocar aquela ilha.


Fonte: Velharias com História, Ilha das Flores
Sílvia Vieira



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