Gaspar Frutuoso foi um historiador, sacerdote e humanista açoriano,
considerado o «pai» da história açoriana. Estudou na Universidade de
Salamanca entre 1553 e 1558, obtendo o grau de bacharel em Artes e em Teologia
neste último ano. Obteve igualmente o grau de doutor, embora se desconheça
onde.
Parte da produção
literária e teológica de Gaspar Frutuoso ter-se-á perdido, mas a
sua obra maior, as Saudades da Terra chegou até nós, um manuscrito que teve uma existência atribulada após a morte do autor e que
foi objecto de diversas cópias (Rodrigues, 1984). Gaspar Frutuoso, com as Saudades
da Terra, pretendeu fazer um
elogio aos Açores e às suas gentes, servindo o texto como um instrumento para a
promoção do arquipélago junto da corte castelhana.
Gaspar Frutuoso produziu
uma narrativa no interior da qual as ilhas açorianas surgem devidamente
integradas no mundo atlântico e insular de Quinhentos. Foi elaborando e
actualizando os seis livros que compõem as Saudades da Terra. O Livro I é dedicado à história geral e do Atlântico, com ênfase nos
arquipélagos das Canárias e de Cabo Verde e nas ilhas de Castela; o II tem como
objecto a Madeira e fundamenta-se na narrativa de Jerónimo Dias Leite; o III
aborda a ilha de Santa Maria; o IV, mais desenvolvido e rico de pormenores,
concentra-se na história e geografia de S. Miguel; o V, conhecido como a
«História de Dois Amigos da Ilha de São Miguel», é uma peça literária distinta,
um texto ficcional que representa uma pausa na narrativa histórica
anteriormente desenvolvida; e, por fim, o VI tem como fulcro as ilhas dos
grupos central e ocidental. De acordo com Jorge Arrimar (1984: 50), a redacção
do livro V seria anterior à dos demais livros, pois apresenta-se composto «numa
letra mais perfeita e harmoniosa do que os outros livros do códice
frutuosiano», sugerindo ter sido redigido por um punho mais jovem e firme.
O
cronista recorreu também à «memória viva», consultando pessoas de idade
avançada, contemporâneas ou testemunhas directas de certos acontecimentos.
Porém,
para salvaguardar a possibilidade de lhe ter escapado algum pormenor, não deixa
de alertar, como fez em relação às acções de Jordão Jácome Correia, o famoso capitão
Alexandre: «Isto é o que pude
alcançar de quem dele sabe e há visto seus papéis» (Livro Quarto das
Saudades da Terra, III, 1987: 141). De igual modo, o autor mostrou-se um
observador cuidadoso da geografia física, da fauna e da flora locais, apesar de
tal se mostrar de forma mais evidente quando escreve sobre S. Miguel.
Em Saudades
da Terra, Frutuoso mostra-se atraído pela observação e pela interpretação dos fenómenos da natureza. Como refere Azevedo (1990),
as referências ao meio natural em Saudades
da Terra são de tal modo pormenorizadas que,
permitem retirar desta obra informações com validade científica e de enorme
importância para o estudo da História Natural do arquipélago.
O espírito observador do autor verifica-se principalmente nas descrições dos fenómenos sísmicos e vulcânicos,
que aconteceram no seu tempo, de muitas das plantas e das aves que então
ocorriam, dos peixes, que eram apanhados mais frequentemente, e de alguns
animais que encalharam nas praias.
Podemos concluir que Gaspar Frutuoso e a sua obra Saudades da Terra, são peças fundamentais para a história Açoriana, visto que existe pouco material acerca da história dos Açores, esta obra é um autêntico testemunho do nosso passado.
A 20 de maio de 1565 foi nomeado vigário e pregador da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da então vila da Ribeira Grande, cargo que exerceu
durante 26 anos, até à sua morte. Nesse período dedicou-se à vida paroquial e à
prática de caridade, dentro e fora da
ilha.
Em 1566, quando do assalto francês ao Funchal, fez um peditório a
favor dos madeirenses, tendo para lá
enviado trigo e dinheiro.
Foi sepultado na capela-mor da sua igreja, acima dos primeiros degraus, quase defronte do altar-mor. Em 3
de setembro de 1866, os seus restos foram trasladados para o cemitério da
Ribeira Grande, assinalados por um pequeno mausoléu, onde se inscreve:
"Aqui jazem as cinzas do Revd.º
Gaspar Fructuoso, historiador das ilhas dos Açores e doutor graduado em
philosophia e theologia pela Universidade de Salamanca, o qual nasceu na cidade
de Ponta Delgada em 1522 e faleceu nesta Villa em 24 de Agosto de 1591. Tendo
recusado o bispado de Angra que em seu favor quizera resignar o ex.mo Bispo D.
Manoel de Almada, preferiu à mitra a vigararia da Matriz desta Villa, que
serviu por 40 anos. A Camara Municipal deste concelho a expensas do município e
coadjuvada pelos donativos de alguns michaelenses, mandou erigir este monumento
à memoria de varão tão insigne em letras e em virtudes, 1867."
Em frente à sua igreja ergue-se, em sua
homenagem, uma estátua de autoria do escultor açoriano Numídico
Bessone.
Informação resumida retirada do site: www.culturacores.azores.gov.pt/ea/pesquisa/Default.aspx?id=9828
Sem comentários:
Enviar um comentário