Havia um homem antigamente, chamado José
( um dos nomes mais comuns dos homens das Flores) que tinha muita fé no
Espírito Santo. Como a mulher estava para ter um filho, prometeu dar um boi
para o Espírito Santo, se tudo corresse bem.
Chegou-se ao dia de matar o gado para a festa e o homem arrependeu-se do que
tinha prometido porque o boi fazia-lhe muita falta para lavrar e carrear.
Inventou uma desculpa e veio falar com a mulher que estava a amassar pão.
Convenceu-a e não foi levar o boi .
Ela não ficou muito satisfeita, mas lá continuou a amassar o pão. Pôs o
fermento e deu-lhe mais umas “mexedelas” como sempre costumava fazer. Pôs um
abafo por cima do alguidar e, para a massa “chegar” depressa, pô-lo sobre o lar
ao pé do calor da fornalha.
O tempo foi passando e o pão não levedava. A mulher olhava para ele a ver se
via uma “arregoazinha”, tocava-lhe com a ponta do dedo indicador, mas nada, não
mexia.
— Era o fermento que não era bom! Vou buscar fermento a casa da vizinha, que
ela tem fermento fresco! — disse a mulher, enquanto punha o xaile sobre os
ombros.
Saiu, trouxe o fermento e misturou-o no pão, esperançada que daí a pouco tempo
já estaria com o pão “a modos” de ir para o forno. Foi esperando, esperando,
mas nada. A massa continuava como a tinha deixado. Entretanto o boi que se
tinha desamarrado da terra e tinha vindo ter a casa, berrava lá fora.
A mulher já não estava nada satisfeita com o que se estava a passar e tinha o
pressentimento de que tudo aquilo era por causa da promessa que o marido não
tinha pago.
Chamou por ele e disse-lhe que o que era prometido era devido e que não se
devia brincar com o Senhor Espírito Santo. O marido, vendo-a assim preocupada,
acedeu:
— O boi vai para o Espírito Santo!
Para espanto dos dois, logo que o marido tomou esta decisão, o pão transbordou
pelo alguidar fora, pronto para ir para o forno.
Pagaram a sua promessa, o filho nasceu bem e cada vez mais aumentou a fé
daquela família no Espírito Santo.
Fonte: António Maria Gonçalves
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