Conta-se que antigamente
havia uma mãe que vivia na companhia duma filha. O marido e pai morrera há
muito, mas lembravam-no constantemente e, todos os dias iam ao cemitério chorar
e rezar sobre a sua sepultura. A mãe, apesar dos cabelos brancos, possuía um
rosto ainda belo e que evidenciava nobreza e caridade. A filha era muito jovem,
alta e esbelta, de pele fresca e levemente corada, mas evidenciando no rosto a
mesma expressão de bondade, que também tinha sido a maior virtude do pai, que
sempre distribuíra o bem, enquanto vivo, por quem o rodeava.
Certo dia em que estavam
ajoelhadas a rezar fervorosamente sobre a sepultura do marido e pai uma
avezinha pousou perto delas, agitando constantemente a cauda como se estivesse
chamando a atenção das duas mulheres. Era uma ave muito pequenina, de cor
acinzentada, com manchas brancas e amareladas na cabeça e no pescoço e negras
nas asas. De repente a avezinha, deixando mãe e filha pasmadas, começou a
falar, dizendo:
— Escolhi-vos para
que digais ao povo desta terra, dedicada a São José que eu fui eleita por Deus
para proteger Nossa Senhora, o José na fuga para o Egipto, cobrindo de pó com a
minha cauda em leque, o rasto da burrinha que os transportava. Dizei também aos
habitantes desta, terra que a minha alimentação é o gorgulho do trigo e que
lhes sou muito útil porque limpo os celeiros desse inseto tão indesejado.
Depois de dizer
isto, levantou voo, enquanto mãe e filha recuperavam do susto. Já não tiveram
mais tranquilidade para continuar as suas orações, regressaram a casa, contando
a quem encontravam o que tinham visto e ouvido.
E
consta que o povo acreditou nas duas mulheres e desde então começaram a
acreditar que as lavandeiras eram aves sagradas, as galinhas de Nossa Senhora.Por
isso é que na Fajã Grande, pelo menos até à década de cinquenta do século
passado, não se perseguiam nem caçavam lavandeiras.
Fonte: Pico da Vigia 2
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