E porque hoje é Dia dos Namorados

Lenço de Namorados - Amor escrito em algodão branco
 

Em dia de corações palpitantes, fomos procurar as genuínas tradições dos namorados. Delicadas peças quadradas, entretecidas em algodão e linho, serviram outrora para bordar quadras de amor e símbolos reveladores de almas enamoradas. O Lenço de Namorados é uma tradição secular, contribuindo ainda hoje para a sustentabilidade de algumas famílias minhotas. Uma tradição que rompeu as fronteiras da criação. Os bordados são hoje utilizados em peças de roupa e mesmo em cerâmica.

Sobre o pano tecido com linho, inscrevem-se linhas de tons vivos, sobretudo o vermelho. Alia-se ao preto para contrastar. Junta-se a queda para o bordado e imaginação para as quadras. Compõem-se os ingredientes necessários para fazer um Lenço de Namorados. A cada ponto dado, crescia na jovem enamorada a esperança de ver o seu amor correspondido. Na primeira ocasião, a moça em idade de casar, oferecia o lenço ao seu apaixonado e aguardava. Se ele o usava publicamente, oficializava-se a relação.
Longe vai a época em que declarações de amor e início do namoro aconteciam entre sorrisos envergonhados e bordados cheios de sentimentos. No entanto, o Lenço de Namorados perdura no tempo, sobretudo no Minho, começando mesmo a ser hoje readaptado. As quadras de amor e os desenhos ultrapassam agora as fronteiras das peças de linho ou algodão de formato quadrado, para chegar a peças de cerâmica e mesmo ao vestuário.
No concelho minhoto de Vila Verde, desenvolve-se um trabalho de recuperação da tradição. Entre várias iniciativas foi criada a marca «Namorar Portugal» que alia a moda à divulgação turística com raízes nos tradicionais lenços dos namorados.
No âmbito desta nova marca, que é também nome de um evento de moda, Vila Verde faz de Fevereiro o mês do romance. Desfiles e exposições, sempre alusivas aos Lenços de Namorados, animam a vila minhota e promovem esta tradição.
 Não será agora difícil beber um chá e ler estas quadras na chávena ou mesmo ter uma camisa bordada com os desenhos característicos dos Lenços de Namorados.
Uma tradição que terá tido origem entre os séculos XVII e XVIII. Na época estas peças, carregadas de amor, eram conhecidas como lenços senhoris e faziam parte do traje feminino tendo uma função fundamentalmente decorativa. Com o passar do tempo foram adaptados pelas mulheres do povo, adquirindo o uso que chegou até aos dias de hoje.


Simbologia
O cravo depois de seco
Senefica amôr perdido
ainda creira não posso
tirar de ti o sentido

Ao teu lado satisfeita
Passo a noite e o dia
Só tu és o meu encanto
A minha doce alegria

Estes são dois exemplos de quadras populares bordadas no Lenço de Namorados recuperadas pela cooperativa Aliança Artesanal. Versos aqui já livres de alguns erros ortográficos. Recorde-se que as bordadeiras eram mulheres do povo, muitas vezes sem estudos. Raros são os pequenos quadrados tecidos a algodão que não têm pequenas declarações. No entanto, algumas quadras eram sacrificadas em prol dos desenhos carregados de simbologia. De acordo com o professor Mota Leite «a fidelidade está presente na representação da pomba e do cão, a ligação amorosa, na representação variada do par de namorados, na silva que significa a prisão amorosa e na chave que une os dois corações e, finalmente, o acto do casamento que está presente na representação de símbolos religiosos como a cruz, o vaso, a custódia e o candelabro».
A simbologia desta tradição revela marcas da cultura portuguesa como as vindimas, com cestas, escadas e cântaros, a emigração, traduzida em quadras e no recurso a símbolos como navios, pombas a transportar correio, e representações de símbolos ligados a crenças religioso-pagãs, como é exemplo a estrela de Salomão.


Aliança Artesanal:
A Aliança Artesanal é uma Cooperativa de Interesse Público com cerca de cem associados. A Câmara Municipal de Vila Verde, a Câmara Municipal de Terras de Bouro e a Casas do Povo de Fermentões e Vila Verde são alguns dos associados que têm como objectivo valorizar o mundo rural, as tradições e o trabalho das mulheres artesãs.
No site oficial desta cooperativa são explicados alguns dos desafios que se propõe concretizar: «apoiar as iniciativas de artesãos individuais, dos centros ou cooperativas de artesanato, na perspectiva de preservação do valor cultural e patrimonial do artesanato de qualidade e, dessa forma, criar condições para apoiar o aumento do rendimento familiar ou criação de novos postos de trabalho; comercializar no País e no estrangeiro, o artesanato de qualidade produzido nos centros, cooperativas e de artesãos isolados, participar na divulgação, no País e além fronteiras, das diversas formas dessa cultura e de produção artística de alta qualidade, promover a informação e a formação profissional, que facilite uma melhor empregabilidade, e a aquisição de competências, saberes e atitudes profissionais com vista a uma maior autonomia pessoal e profissional».
O Lenço de Namorados terá existido um pouco por todo o país, mas é na região do Minho que a tradição mais tem perdurado. É também nesta região que a Aliança Artesanal desenvolve o seu trabalho.

Trabalhos certificados:
Para garantir a qualidade e fiabilidade da tradição existe já um processo de certificação do Lenço de Namorados. Em 2000 foi regulamentada a «Marca Colectiva de Associação Lenços de Namorados do Minho». Estava dado o primeiro passo para a promoção, viabilização económica e protecção legal deste produto artesanal. Uma das entidades certificadoras é a Adere-Minho - Associação para o Desenvolvimento Regional do Minho.A associação tem disponível online o caderno de especificações, onde descreve as características que os Lenços de Namorados devem ter no sentido da certificação, disponibiliza ainda o regulamento das certificações, assim como a lista dos certificados já atribuídos.
Sara Pelicano | segunda-feira, 14 de Fevereiro de 2011

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