O Recordar da Ganadaria de Álvaro Inácio Gomes


Sr. Álvaro Gomes - antigo ganadeiro 

Os touros são uma tradição intrínseca no povo terceirense e de forma a iniciar o mês de Maio – Mês das Touradas   decidi fazer uma entrevista a um antigo ganadeiro, de forma a expor um belo museu particular, existente na sua moradia. O sr. Álvaro Miranda Gomes foi quem assumiu a ganadaria quando o seu pai faleceu, em 24 Junho de 1977.

Sara Luís – SL
Sr. Álvaro Gomes – AG

SL- Bom dia Sr. Álvaro Gomes, antes de mais, muito obrigada por ter aceite este convite.
Em que ano é que surgiu a Ganadaria, designada como AIG (Álvaro Inácio Gomes)?
AG – A ganadaria surgiu em 1953, eu ainda nem era nascido. Foi o meu pai que tomou a iniciativa, começando a adquirir cabeças de gado bravo. 

SL- Naquele tempo era ajudante do seu pai, mas já aspirava um dia poder ser um Ganadeiro de renome na ilha?
AG – Sim, durante vários anos fui lavrador e ajudava o meu pai em tudo, mas tinha sempre a vontade de um dia ser eu o ganadeiro, pois desde pequeno que mantinha contacto com os animais e habituei-me àquele ambiente. Quando o meu pai faleceu, em 1977, assumi o lugar dele como ganadeiro. 

SL- A sua família sempre esteve muito ligada à cultura taurina e cresceu neste ambiente. Gostava de ver os seus filhos rumarem por esse caminho?
AG – Sim, gostava que os meus filhos tivessem a mesma experiência que tive.

SL- O sr. era um dos ganadeiros mais afamados da ilha. Tem ideia de quantas corridas à corda realizava por ano?
AG – Já não me recordo bem, mas sei que pelo menos 60 realizava, e era só aqui na ilha Terceira.

SL- Lembra-se da primeira vez que um touro da ganadaria AIG foi à praça?
AG- Sim, foi em Junho de 1972, pelas Sanjoaninas e foi na praça de São João. Lembro-me que tinha muita gente. Aquela praça tinha capacidade de 2200, mas vendia-se sempre mais alguns bilhetes.

SL – Em relação à ferra da sua ganadaria, tinham algum dia específico para a realizar?
AG – Dia não tínhamos, mas era sempre no mês de Maio.

Touro nº. 100
SL – De todos os touros que tinha, tinha preferência por algum?
AG – Sim, pelo número 100 e pelo 125. Estes touros destinguiam-se dos outros, eram muito mais bravos e destemidos e dava gosto vê-los correr.

SL - Ainda assim, mesmo depois de decidir vender os touros que tinha não deixou de estar ligado a esta cultura e por isso começou a criar um museu particular. Em que ano isso aconteceu?
AG- Eu desde que me casei fui sempre guardando várias peças, ou artigos de jornal que para mim tinham algum significado e um dia comecei a colocá-los expostos no corredor até que depois construímos um outro quarto e fui melhorando. Tinha várias peças que pertenciam à ganadaria, mas também tinha outras peças que tinha significado para mim. Hoje em dia já tenho inúmeras peças e já as consegui expor de uma melhor forma.

SL – Estas peças que aqui se encontram são afamadas pela ilha e pedem-lhe diversas vezes para as colocar expostas em algum local. Gostava de um dia poder ter as suas peças expostas num local onde as pessoas tivessem um maior contacto?
AG- Gostar até gostava, pois tenho aqui muitas peças que sei que são importantes, mas é muito difícil conseguir algo desse género.

Ferro AIG
SL – De todas as peças que aqui se encontram, qual é a que para si tem mais valor sentimental?
AG – É difícil responder a essa pergunta, mas penso que será o ferro do meu pai, com as iniciais da ganadaria, AIG. Aquele ferro era o ferro com que ele ferrava os touros e para mim, sem dúvida, que tem muita importância.

SL- E por fim sr. Álvaro, voltava a ter uma ganadaria?
AG – Não. Adorei a experiência que tive mas não voltava a ter. Ainda assim, gostava que um dos meus filhos tivesse e aí podia ajudá-los em tudo o que precisassem e orientá-los pelo caminho certo.

SL - Muito obrigada pelo seu tempo e desejo-lhe muitas felicidades.
AG - Obrigado eu e igualmente.


Alvarino, como é conhecido o Sr. Álvaro, foi um dos ganadeiros mais distinguidos na ilha. Naquele museu encontram-se diversas recordações em homenagem ao seu pai e à ganadaria por ele fundada. 

Museu particular do sr. Álvaro
 Sara Luís

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