"O tema do romance, editado sob a chancela do IAC, surgiu
durante uma viagem que o autor fez pela Califórnia (por ocasião do lançamento
do álbum fotográfico "As Fajãs de São Jorge", em 1993), ocorrendo-lhe
a ideia de um fictício encontro com João Mateus, em Tulare, onde o não menos
fictício poeta popular terceirense, agora com os seus 80 anos, estaria
radicado. O romance é, portanto, a rememoração de como ele teria escrito
"A Paixão" e a representou durante oito anos. Todo o texto da peça e
a sua concretização cénica são acompanhados e comentados a par e passo.
Servindo-se da deambulação descritiva, João Mateus vai introduzindo na
narrativa histórias comoventes, graciosas e até pícaras, a propósito de alguns
intérpretes das figuras bíblicas, num contraponto de registos que parece
estimulante para a leitura. Trata-se de um romance narrado na primeira pessoa
que, no seu tom de oralidade, deixa pressupor a presença tutelar do autor, sem
que ele pronuncie, no entanto, uma única palavra. Sobre a obra escreveu Teresa
Carvalho (investigadora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra): "Pela capacidade de
harmonizar uma elaboração formal com a prática digressiva da oralidade; pela
sua magnífica paleta de cores, a oscilar entre o roxo da via crucis e os tons
indisfarçavelmente jocosos da glória de existir; pela capacidade de estabelecer
cumplicidades com o leitor; pelo modo de infringir a própria norma romanesca,
'A Paixão Segundo João Mateus' apresenta-se como um romance sem equivalente. E
sem a possibilidade do espinho da desilusão." "
Norberto Ávila nasceu em Angra do Heroísmo, a 9 de Setembro de 1936. De 1963 a
1965 frequentou, em Paris, a Universidade do Teatro das Nações. É autor
de três romances, um livro de poemas e 30 obras dramáticas
(representadas em muitos países, da Península Ibérica à Coreia do Sul).
Fonte: Expresso das Noves
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