Viola da Terra - Fonte de imagem: http://burrademilho.blogspot.pt |
A Viola surge nos Açores na segunda metade do século XV, trazida
pelos primeiros povoadores nas suas bagagens.
A
Viola de então, poucas semelhanças deveria ter com a nossa actual Viola da
Terra, que herdou a imaginação de várias gerações de construtores.
A
Viola de Arame ou Viola dos Dois Corações, nomes por que também é conhecida,
era acompanhante natural de todos os cantares festivos, bailes, derriços,
desgarradas, desafios e despiques, e também dos devaneios sentimentais, líricos
e amorosos.
A Viola da Terra fazia parte do dote do noivo e o seu lugar, durante o dia, em
cima de uma colcha axadrezada, como adorno do quarto de cama, era uma presença
constante. Esta união, em que a Viola era colocada com as cordas viradas para
baixo, em contacto com o tecido da colcha, prevenia, dizem os antigos, a Viola
da Terra de ganhar humidade, pois este é um instrumento extremamente
sensível a variações climatéricas
“O que eram os bailes do povo”
“Noutros
tempos as diversões populares limitavam-se ao jogo do bilro, do dominó e aos
jogos de cartas (sueca, bisca de 3, bisca de 9, burro, perde-ganha e truque).
Uma outra diversão – o balho – quando surgia, punha logo todas as outras de
parte; havia alvoroço, havia um manifesto entusiasmo por ele.
Toda
a gente se sentia atraída pelos balhos. E já se previa o jeito que dava umas
voltinhas no Pezinho ou na Bela Aurora, ou, pelo menos, se ouviria o costumado
despique, ou ainda o gracejo de algum espirituoso cantador!
Esses
divertimentos faziam delirar a gente nova, porque o balho era o jardim onde se
apanhava a flor escolhida… e os mais velhos, envolvidos no ramalhete,
prestavam-se ao disfarce dos olhares interesseiros impossíveis de se trocarem
nas proximidades das residências dos papás.
Os
balhos juntavam os povoados, arrastavam as pessoas desejosas de enfrentarem
longas caminhadas só para cantar e bailar. Tudo era festa. A romaria era uma
caminhada festiva, um folguedo atraente, uma alegria vivida na mais ampla
exteriorização dos prazeres mundanos.
A
Viola da Terra acionava todos os que se envolviam nos cantares e nas danças;
era a mola real a incentivar à folgança; a companhia mais íntima dos ranchos que
se deslocavam a lugares distantes onde quer que houvesse festa rija. A Viola
era o chamariz. A sua presença, em qualquer parte provocava reunião: uns
levantam a voz enquanto outros volteiam frente a frente ou em volta, e eis o
balhos nas casas do mordomo do Menino Jesus, do Imperador do Espírito Santo e
nas matanças do porco."
O
povo divertia-se desta maneira tão espirituosa, distraia-se de um modo salutar,
sem ódio, sem malquerer. Eram assim os balhos que nada tinham a ver com outros
passatempos. “
Tenente Francisco José Dias
“Cantigas do Povo
dos Açores”
1981; Pág.
25
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