Aproxima-se o mês de Novembro. Desde
os meus afastados anos da juventude sempre o considerei um mês triste. O mês
dos crisântemos, a flor que nos acompanha nas horas de tristeza...
Hoje é diferente. Encaro o penúltimo mês do ano com a naturalidade possível e
vivo os seus dias sem as preocupações de outrora.
O dia de todos os Santos era e é ainda, na tradição popular, o “dia do pão por
Deus”. Tal como hoje, ia-se bater às portas das pessoas amigas e conhecidas
pedir Pão por Deus. E a saquitola nunca vinha vazia.
Era dia santo. A Igreja Católica, e no tempo era a única, embora hoje haja um
ou dois núcleos de outras “crenças”, celebrava no dia um a Festa de Todos os
Santos. Segundo os Teólogos, é a festa da santidade. Evocam-se todos os santos
que estão junto de Deus, mesmo aqueles que não foram canonizados. É um dia
muito especial em que celebramos a santidade de Deus, a plenitude da vida
cristã, a comunhão eclesial com os Apóstolos, Mártires e os santos conhecidos e
anónimos. Um dia em que a Igreja chama a atenção dos fiéis para a vivência da
santidade cristã, ou seja, a felicidade e a liberdade plena dos cristãos.
Para as crianças era e continua a ser o “dia do pão por Deus”!
Logo a seguir, vem o dia dos Fiéis Defuntos. Nesse dia os sacerdotes
tinham, hoje desnecessário, o privilégio de celebrar três missas, privilégio
que só se repetia pelo Natal.
A igreja utilizava as vestes litúrgicas negras – hoje substituídas pelo
roxo – e, geralmente, armava no corpo dos templos um cadafalso, coberto de um
pano negro, e, junto dele, fazia os “responsórios” pelas almas dos defuntos.
Ao amanhecer, celebrava-se duas Missas para os paroquianos poderem, depois, ir
para os seus trabalhos agrícolas. Normalmente, já vinham preparados para seguir
para os seus terrenos, pois traziam, além do trajar apropriado, os utensílios
para executar as labutas do campo.
A meio da manhã, celebrava-se a Missa cantada de requiem, quase sempre de três padres, pois o pároco da
Silveira estava presente com os dois então residentes na
vila.
As pessoas trajavam de preto, sinal de luto, e neste seu trajar queriam
recordar os familiares falecidos. Era, na realidade, um dia sombrio...
Presentemente, tem lugar, no mês de Novembro, a Festa de Cristo Rei,
cuja celebração começou na Matriz das Lajes, após a criação dos grupos da Acção
Católica. A festa litúrgica iniciou-se na Diocese na década de Vinte do século
passado. Era Bispo da Diocese Dom António Meireles, que depois foi transferido
para Coadjutor da Diocese do Porto, onde faleceu já bispo diocesano.
Não se celebravam no dia indicado pela Liturgia, mas no domingo
seguinte, porque, antes, a freguesia de São João já celebrava a solenidade
de Cristo-Rei e o pároco, P. Inácio
Coelho, era co-celebrante permanente nas festas da Matriz das Lajes.
Os Pe. José
Vieira Soares, Pároco e Ouvidor das Lajes, P. Manuel Vieira Feliciano, cura de
São Bartolomeu, da Silveira, e Pe. Inácio Coelho, Pároco de São João,
constituíam um trio sacerdotal que colaborava assiduamente nas festividades das
respectivas paróquias. Entendiam-se fraternalmente e as respectivas actividades
paroquiais eram previamente combinadas. Mas o grupo desfez-se, quando faleceu o
P. Vieira Soares e, a seguir, o P. Inácio Coelho foi residir para os Estados
Unidos
Quando ficou na situação de manência – ou reforma, sem quaisquer
remunerações... - o P. João Xavier Madruga passou a residir nas Lajes e era um
permanente auxiliar, principalmente na oratória, que nunca recusava.
O que venho de escrever faz parte da nossa história. Importa pois, registá-lo Ad perpetuam rei memoriam.
Lajes do Pico
11-Outubro-2016
Fonte: Notas do Meu
Cantinho - Ermelindo Ávila
Jornal
o Dever
Ana Cabrita