Não se trata daquelas que, dia a dia, os
noticiários da TV e da Rádio nos trazem e, de tanto repetir a notícia, nos
obriga, por vezes, a desviar para outro canal, pela maneira indiferente como a
notícia é tratada.
Nas zonas rurais já se vai falando nas matanças dos porcos. Uma festa de
família que, a partir dos finais do Outono e durante o Inverno, tinha lugar em
todas as freguesias da Ilha.
E que interessante era. Para a gente miúda era uma grande festa se bem que,
para os adultos representava dias de intenso trabalho doméstico.
Nem sei hoje como são as tradicionais matanças de porcos. Refiro, pois, o que
acontecia há umas dezenas de anos, quando as famílias eram, geralmente,
numerosas e os suínos eram tratados cuidadosamente durante o ano para que a
matança fosse um acontecimento familiar e festivo.
A preparação do acontecimento já era de festa. Desde o apanhar das vassouras
(urze), que se punham a secar no quintal, com a devida antecedência, até à
apanha e preparação das cebolas, cultivadas especialmente para as morcelas,
tudo representava para muitos, quase actos festivos.
Marcado o dia da matança, - e tinha de ser combinado com os familiares para não
coincidir com os dos outros amigos ou familiares - iniciavam-se os trabalhos de
preparação dos utensílios, além de outros indispensáveis, para que tudo
estivesse pronto no dia aprazado.
Moíam-se os cereais – trigo e milho – para o fabrico do pão de milho e de
trigo, e bolo de milho, em quantidades suficientes para os dias da matança. Os
dias antecedentes eram destinados à cozedura dos pães de trigo, por vezes maça
sovada, de milho ou de “duas farinhas”, a limpeza da casa e da loja, ou
rés-do-chão, onde era pendurada a carcaça do animal, a enxugar algumas horas ou
um dia e noite .
Convidavam-se o “matador” e os ajudantes, com a devida antecedência, bem como
as mulheres que iriam ajudar nos trabalhos de cozinha; e, geralmente, moças
para “picar as cebolas”, na véspera do dia.
De madrugada alguém ia chamar os que iriam ajudar nos trabalhos da matança, bastante
cansativos, pois era necessário que todo o trabalho se fizesse de madrugada e
os homens que o executavam pudessem almoçar antes do nascer do Sol, pois tinham
de estar livres para o caso de “aparecer baleia”, visto que todos ou quase
todos eram baleeiros.
Os mais miúdos aguardavam o dia com ansiedade: não iam à escola e aguardavam a
bexiga para a encherem de ar e com ela fazerem na rua os seus jogos de futebol,
brincadeira que hoje se tornaria impossível, dado o trânsito automóvel que
desde cedo circula.
Hoje é tudo diferente. Os animais são levados ao Matadouro e lá são abatidos e
preparados, restando às famílias apenas os trabalhos de cozinha: derreter as
carnes para os torresmos, e preparar as morcelas, a linguiça e pouco mais,
porque as arcas frigoríficas fazem o resto.
Mesmo assim, o dia da matança não deixa de ser um dia especial
para as famílias que ainda seguem a tradição. Ainda se fazem os presentes,
serviço que as crianças aguardam com interesse pelas gorjetas que normalmente
recebem.
Há dias assisti, com muitos lajenses, a um almoço comunitário de porco, abatido
no matadouro. E não faltaram as morcelas e os torresmos. Um repasto apetitoso e
um convívio agradável, que todos apreciaram, e eram umas dezenas. Uma maneira
simples de nos encontrarmos, já que a maioria, embora residente na vila, pouco
ou quase nenhum convívio tem. E bem necessários que eles são pois, o isolamento
que se vive é atrofiante e cada vez mais isso se nota, com a paralisação de
serviços, repartições e oficinas, que antes existiam e, nestas, muitas vezes se
juntavam para amena cavaqueira.
O convívio foi uma maneira de reunir fundos para um fim comunitário e de juntar
os lajenses, que poucos faltaram. Aguardemos outro...
Lajes
do Pico,
24.
Outº- 2916
Fonte:
Ermelindo Ávila - NOTAS DO MEU CANTINHO
Ana
Cabrita
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