Conta-se que
antigamente, junto à rocha da Fajã, num lugar hoje denominado de A
Quebrada” numa
pequena e pobre cabana, viviam muito pobremente, uma mãe com a sua filha. A
rapariga era muda de nascença mas fazia-se entender e comunicava na perfeição
com as outras pessoas que, embora raramente, por ali passavam. Além disso a
jovem era possuidora de uma rara beleza que encantava todos quantos a viam.
Certo dia passou por ali
um belo e valoroso jovem que andava a caçar. Ao ver a moça, de imediato se
encantou com a sua beleza, pelo que no dia seguinte e em muitos outros voltou a
passar por ali a fim de apreciar tão excelsa e invulgar beleza. Encantou-se de
tal modo o jovem que acabou por se apaixonar loucamente pela rapariga,
declarando-lhe, por fim, o seu amor e pedindo-a à mãe em casamento. Mãe e filha
mostraram-se, inicialmente, muito receosas e hesitantes, mas como a rapariga
também se apaixonou pelo rapaz, acabou por pedir à mãe que acedesse ao pedido
daquele jovem a quem já amava também. A mãe aceitou e os encontros entre os
dois foram-se repetindo no meio daquele descampado onde não vivia mais ninguém
e a relação entre os dois jovens enamorados tornou-se cada vez mais forte.
Passado algum tempo a rapariga pressentindo que estava grávida começou a ficar
muito triste e receosa. Mais triste e apreensiva ficou quando percebeu que as
visitas do seu amado eram cada vez menos frequentes. De certeza que já não a
amava. O sofrimento e a dor tornaram-se muito maiores quando a rapariga
percebeu que o rapaz desaparecera para sempre, que a abandonara, pois desde há
muito que não a visitava.
Entre lágrimas e
sofrimento os meses passaram até que chegou o dia em que o bebé nasceu, num dia
de grande temporal. Ventos ciclónicos e chuvas torrenciais assolavam toda a
ilha. O mar metia medo. Mas a criança acabada de nascer era um belo rapagão,
forte e vigoroso, que em tudo fazia lembrar o pai. A rapariga encheu-se ânimo e
coragem e dando um enorme grito de alegria, começou a falar. A mãe que também
sofrera com a dor da filha também regozijou de contentamento. A alegria das
duas era enorme… Haviam de criar, embora na pobreza, com muita alegria o seu
filho e neto.
Mas diz a lenda que
nesse momento, assolada pelo fortíssimo temporal, a rocha desabou e uma enorme
ribanceira caiu soterrando o pobre casebre e quantos se encontravam lá dentro:
a mãe, a filha e a criancinha. Essa a razão por que há quem diga que em certos
dias de temporal, ao passar por ali, ainda se ouvem gritos de terror vindos bem
lá do fundo, de debaixo da quebrada.
Fonte: Pico da Vigia 2
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