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Sécs. XVIII e XIX Madeira, barro, flores secas, conchas, papel, algodão |
Em S. Miguel, as primeiras referências a presépios remontam ao século XVI, por influência da fixação na ilha da Ordem dos Franciscanos. Porém, é no século XVII que aparecem as primeiras "lapinhas", confeccionadas pelas freiras nos conventos, decoradas com minúsculas conchas e flores artificiais de seda, penas, escamas de peixe, cera, papel e algodão, de onde sobressaem figurinhas de barro representando a Sagrada Família.
O século XVIII assistiu a um maior brilho e expansão dos presépios em S. Miguel, sobretudo devido à influência de escultores continentais, como Machado de Castro, sendo possível encontrar, ainda hoje, vários exemplares de "lapinhas" dessa época, em igrejas e casas particulares. Contribuindo para a sua decoração, é de realçar a produção de flores artificiais, ou "flores de freiras", nos conventos, a qual teve grande desenvolvimento nesse século, tendo sido o antigo Convento de Santo André um dos locais onde a arte decorativa cresceu e se aperfeiçoou de forma mais notável. Quanto às figuras de barro para os presépios, eram modeladas localmente, na sua maioria, por artesãos anónimos.
É neste período de valorização e difusão dos presépios que surge, no núcleo sede do Museu Carlos Machado, a "lapinha" do coro alto do antigo Convento de Santo André. Inserida numa maquineta de madeira, com porta de vidro à frente, e embutida na base do altar do Senhor dos Passos, permite uma narrativa alargada, revelando em planos separados o Nascimento do Menino Jesus na Gruta de Belém, a Aparição do Anjo aos Pastores, a Adoração dos Reis Magos, a Apresentação do Menino no Templo, a Degolação dos Inocentes e o Baptismo de Jesus. Para além das várias figuras de barro, apresenta diversos motivos ornamentais, dos quais destacamos as pequenas conchas e as inúmeras flores secas e artificiais, elementos que contribuem para um exuberante quadro de cor e expressão.
No século XIX, os presépios passaram para o domínio da arte popular e, em S. Miguel, as "lapinhas" continuam a produzir-se em espaço doméstico e a título particular, coexistindo com os característicos "Altares do Menino Jesus". De salientar que essas "lapinhas" permaneciam em exposição todo o ano, colocadas em cima da cómoda do quarto de cama.
Com a fundação de fábricas onde o barro era cozido, vidrado e pintado, na vila da Lagoa, na segunda metade do século XIX dá-se a expansão e aperfeiçoamento dos bonecos de presépio, que passam a ser produzidos com a técnica de molde. Nesta arte popular, destacamos a preocupação dos artífices em representar não só as personagens típicas do presépio, mas também cenas do quotidiano, como a matança do porco, a mulher na fonte, procissões e várias figuras, nomeadamente foliões, mulher de capote e capelo, homem de carapuça, padre, camponês, pescador, ou bandas de música, entre outros.
Actualmente, artesãos locais continuam a dedicar-se, com empenho e preciosa habilidade, à produção de "lapinhas", em maquinetas ou em redomas, contribuindo para manter viva uma das mais belas demonstrações da religiosidade do povo açoriano.