Os carros de bois foram durante séculos um elemento fulcral
na entidade rural açoriana. Existem referências que apontam a sua utilização desde
o povoamento das ilhas.
Estes carros serviram de meio de transporte, sobretudo, para
aos lavradores da ilha, permitindo o carregamento de lenha, cereais, materiais
de construção, etc…fazendo-se deslocar com as suas rodas maciças,
verdadeiramente pesadas, por vielas estreitas, de difícil acesso. Esta viatura
era tudo menos leve, tudo menos veloz, mas ainda que movendo-se aos solavancos,
era capaz de fazer o transporte dos materiais necessários ao quotidiano ilhéu.
De forma a permitir um maior transporte de carga, surgiu no carro
de bois os chamados fueiros – varas verticais que suportavam uma sebe feita em
vimes entrelaçados. A sebe era redonda à frente e aberta atrás, podendo ser
fechada por um elemento do mesmo material – a porta. Quando se tratava do
transporte de cargas grossas, como a lenha, a sebe era retirada.
Além de toda a sua importância enquanto meio de transporte
rural, o carro de bois assumiu, igualmente, um papel de relevo nas festividades
da ilha Terceira, nomeadamente nas festas do Divino Espírito-Santo.
Carro de Bois com fueiros |
Quando o carro estava a servir o propósito de transportar a
família do lavrador para o bodo do Espírito-Santo nos Domingos de Pentecoste ou
da Trindade, a sebe era substituída por um toldo tecido de vimes, que era
coberto por colchas. No interior do carro, era introduzido um colchão onde as
mulheres se sentavam.
Ainda no contexto das festas do Divino, e sendo esta uma
festa de partilha e doação, os carros de bois eram utilizados para transportar
no seu interior o pão, a carne, a massa sovada e o vinho a ser repartido pela
população.
Como já foi referido, estes carros estavam constantemente
carregados de grandes volumes e, normalmente, faziam-se deslocar por veredas
bastante acidentadas e apertadas. São disso resultado as relheiras – sulcos
deixados pelas rodas destes veículos após as suas sucessivas passagens.
Carros de Bois no Bodo do Espírito Santo |
As relheiras são paralelas devido a uma padronização da
largura dos eixos dos carros de bois e pela escolha do percurso mais curto e
menos atribulado para a(s) junta(s) de bois, o que foi criando uma espécie de
“carris”, onde as rodas já encaixavam e era só seguir o trajecto já delimitado.
Os sulcos, por sua vez, podem assumir profundidades variadas,
que estão relacionadas com o seu volume de utilização, assim como com a
quantidade e tipo das cargas transportadas. Ou seja, as relheiras mais
profundas e vincadas eram as mais movimentadas ou os veículos de tracção animal
que lá passavam transportavam cargas excessivamente pesadas.
As relheiras podem-se apresentar de duas formas: em V e planas
em U. As relheiras em V são resultantes de aros de fabrico muito artesanal
fixados às rodas com pregos salientes e são mais antigas. As em U resultam de
um fabrico melhorado, pois já contam com aros forjados por ferreiros,
permitindo um acabamento plano do aro em ambas as faces – a interior, em
contacto com a madeira – e a exterior, que ficava em contacto com o solo.
Relheiras do trilho pedestre de
S. Brás (PRC8TER) - © Paulo Barcelos – Associação “Os Montanheiros”
|
Actualmente, os carros de bois são um marco incontestável da
etnografia e, como tal, estão presente em cortejos e desfiles relembrando toda
a sua importância de outrora.
Fontes:
http://museucarlosmachado.azores.gov.pt
www.geocaching.com
www.flickr.com
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