Etnografia Açoriana - Natal secular na Ilha Terceira


Chega a época de Natal e a azáfama para decorar a casa é grande. Entre outros elementos habituais, não faltam as velas torcidas e enfeitadas, jarras com flores, bonecos de barro de fabrico popular ou importados do Continente e outras galantarias. Por vezes, até bilhetes postais ilustrados com vistas da América servem para ornamentar, se o dono da casa aí esteve ou tem algum parente que o tivesse enviado.
Mas lugar sempre marcado e inesquecível tem o prato de trigo, "...As primeiras searinhas são para o Menino Jesus..."  Manda a tradição que no dia oito de Dezembro, dia da Imaculada Conceição, padroeira de Portugal, é o dia de colocar  o triguinho nos pratinhos, a cevada, a ervilhaca, os tremoços ou as favas, para germinarem à luz ténue de Dezembro, nas janelas viradas a nascente e, assim, crescerem até ao fim do Advento, com regas dia sim, dia não
 para no dia 25 já estar nado e as folhas terem atingido alguns centímetros.
O dia que assinala o nascimento de Jesus é celebrado um pouco por toda a parte mas, como se pode verificar, há tradições natalícias com características específicas, de determinadas regiões do nosso Portugal.
Em pleno Oceano Atlântico, no arquipélago dos Açores, as gentes da Ilha Terceira festejam o Natal conservando, deste modo, ainda o seu caracter popular. 

Tradições que o historiador Luís da Silva Ribeiro, relata na obra «Etnografia Açoriana», editada pelo Instituto Histórico da Ilha Terceira em 1982. 
“No meio da casa – escreve o historiador – põem ramos de faia do Norte contra as paredes ou, dependurados dos tirantes, ramos de laranjeira com frutos, que já nessa época estão amarelos e, se o chão é térreo, atapetam-no com feno (frança de pinheiro) como no Espírito Santo”. Numa cómoda ou numa mesa encostada à parede do fundo era “armado” o Menino Jesus. Vestido com uma saia rodada e um corpete de seda branca, bordada a lantejoulas e canutilhos de ouro, era colocado sobre uma caixa de madeira ou de cartão forrado de papel ou de pano de cor vistosa, em jeito de trono para ficar mais alto. 
Já na noite do dia 24 de Dezembro as famílias percorriam as casas uns dos outros para ver o Menino dirigindo-se, depois, juntas, à Missa do Galo. Conta o historiador Luís Ribeiro que após a missa sucedia-se o beijar do Menino. 
Aqueles que não esperavam visitas deitavam-se e dormiam até o despertar com o sino da Igreja. 
A grande festa acontecia, então, no dia 25, dia de Natal. Com mais ou menos posses, todos os terceirenses procuravam ter um jantar mais abundante, com uma ementa constituída, normalmente pela canja de galinha com arroz ou feijão, galinha cozida, pão de trigo, figo e nozes, regado com vinho de cheiro (doce). 
Segundo Luís Ribeiro, os presépios tinham uma presença mais assídua nas freguesias do Ramo Grande, concelho da Praia da Vitória. Eram constituídos pelas clássicas figuras do Menino Jesus, deitado numas palhinhas, São José, Nossa Senhora, o burrinho e a vaquinha. Frente à gruta apareciam os pastores, os Reis Magos com o seu séquito, no alto uma suposta cidade de Belém. Tudo sob um céu de papel azul, recamado de estrelas de papel dourado, de onde pendiam coros de anjos e a estrela dos Magos.

Fonte : 
http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=26768

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