Consta que há muitos,
muitos anos uma princesa irlandesa deu à costa nos baixios da costa oeste da
ilha das Flores, mais concretamente no lugar da Fajã Grande. Tratava-se de uma
jovem princesa, raptada pelos mouros que a levavam cativa para terras distantes.
Ao passar pela ilha das Flores o barco em que viajava, como era costume,
aprumou ao Monchique, a fim de tomar rumo em direção ao Mediterrâneo. No
entanto levantou-se uma enorme bruma e a embarcação naufragou por fora da Ponta
da Coalheira, lá para os lados do Canto do Areal. Os piratas conseguiram
salvar-se, saltando para uma outra embarcação que por ali passava, mas a
menina, ou porque levada pela correnteza das ondas ou por malícia dos
marinheiros, foi arrastada milagrosamente para terra sendo encontrada, no dia
seguinte, a dormir num serrado cheio de favas.
Essa a razão pela qual
ficou conhecida pela Menina das Favas.
Mas na localidade
ninguém quis receber em sua casa aquela estranha criatura. Assim, a Menina das
Favas foi abandonada, vivendo de uma ou outra côdea de pão que algumas pessoas
mais generosas lhe davam. Esfomeada, descalça e suja, a jovem garotinha passava
os dias sentada sobre os rochedos, à beira mar, olhando o horizonte distante e
infinito. Não tentava falar com quer que fosse, não sorria para ninguém, não
dizia uma única palavra. Apenas acenava com a cabeça, em sinal de
agradecimento, a quem lhe dava a mais ínfima e pobre côdea de pão.
As pessoas passavam por
ela, à beira mar, na faina da pesca ou da apanha de lapas, caranguejos e búzios,
nem sequer lhe lançava um simples olhar. Ninguém a procurava para falar com
ela, para a animar, para a consolar. Sabia-se que pernoitava nas furnas do
baixio, onde também se refugiava nos dias de chuva e de temporal.
Certo dia a Menina das
Favas desapareceu. Nunca se soube algo sobre ela, se foi levada pelo mar ou por
alguma embarcação que ali ancorasse, durante a noite.
Fonte: Tribuna das Ilhas
Silvia Vieira
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